domingo, 1 de abril de 2012

Pra nooooooossa alegria, menos da Luíza, que está no Canadá

Dois vídeos virais. Duas provas de que o brasileiro é capaz de rir de si próprio, mesmo que não se dê conta disso.

O primeiro: rimos de uma elite esnobe emergente, totalmente despreparada para ser a classe que deveria comandar o país.
O apresentador lança na tevê “o Boulevard Saint Germain, o novo endereço da sociedade paraibana. Apartamento para toda a família, com quatro suítes, sala para três ambientes, e um clube de lazer. E é por isto que eu fiz questão de reunir toda a minha família, menos Luíza, que está no Canadá, para recomendar este empreendimento.”

O pedantismo que começa no nome do condomínio termina longe, bem perto do círculo ártico.

Que diferença deveria fazer, para a reputação do empreendimento, seus potenciais compradores saberem que a filha do anunciante está no Canadá?
Será que, se Luíza estivesse em Santo Antônio dos Milagres/PI, a cidade mais pobre do Brasil, seu paradeiro seria revelado no comercial?

Óbvio que não. Mas um dos muitos problemas do Brasil, em especial das classes emergentes, é pensar que tudo que é do “estrangeiro” é melhor.
São brasileiros de nascença, mas se sentem gringos – e de certa forma são, mesmo – em sua própria terra.
É a síndrome do patinho feio: acham que, apesar de terem nascido aqui, são superiores a tudo o que os circunda; mas acham também que, por terem nascido aqui, jamais estarão à altura dos seus pares “da elite” norte-americana ou europeia – que, geralmente, tratam com reserva, quando não nojo e ares de superioridade, a protoelite brasileira.

É disso que rimos quando assistimos a este primeiro vídeo.
Rimos de nós mesmos, povo disposto não só a seguir uma elite completamente aculturada, mas também a integrá-la (jamais a substituí-la).

Já o segundo vídeo viral é exatamente o oposto.
Negros, pobres, cantando aquele que, hoje, talvez seja o produto subterrâneo-cultural mais disseminado, ao lado do tecnobrega: o gospel.

Rimos, mas não acharíamos graça se o vídeo tivesse sido gravado pela família da Luíza, cantando em bom inglês uma música do Blé-caid-pis, em sua sala de três ambientes no Boulevard Saint Germain.

Rimos de quê, então?
Rimos por a cara do Brasil ser de negros pobres, e não de meninas ricas que vão estudar no Canadá?

Rimos, de novo, de nós mesmos.
Rimos do que queríamos ser, e rimos do que queríamos que não fôssemos.

Mas rimos, principalmente, porque, a despeito de qualquer coisa, são vídeos engraçados. Muito engraçados.

Rimos porque o violonista da “noooooooossa alegria” é simpático – infinitamente mais do que o tosco e pedante apresentador do comercial de tevê paraibano.

E rimos, finalmente, porque o rir não necessariamente significa aceitar sem refletir os lampejos cômicos de uma realidade triste.

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