quarta-feira, 28 de março de 2012

Para sempre

Nenhum amor na vida de um homem (e também na de algumas poucas e valorosas mulheres) é tão perene quanto este.

Muito antes da primeira namoradinha (ou namoradinho, no seu caso), já carregamos uma paixão que, umas horas como fardo, outras como gozo, durará até o fim de nossas vidas.


Já vi jogadores beijando camisas com mais nojo do que uma polaca beijaria seus dez marinheiros de uma noite.

E olha que os primeiros (jogadores, não marinheiros) são muito bem remunerados para isso.


Torcer para um time é questão que ultrapassa qualquer possibilidade de compreensão. Não se diz “escolhi” um time, e sim “tenho” um time. Ou mesmo “sou” um time.

O que demonstra que, para prestar juramento solene a uma bandeira em vez de outra, não se fazem contas nem se olham rankings.


Torcer talvez fosse uma das únicas liberdades plenas que tínhamos no Brasil.


Digo “tínhamos” porque, agora, há um batalhão de fiscais do futebol que se acham no direito de determinar por qual time um ou outro deve torcer: “É do Amazonas? Qual cidade? Manacapuru? Então você vai ter que torcer para o Operário Manacapuruense ou para o Princesa do Solimões.”


E ai de você se disser que torce para o Flamengo, para o Barcelona, ou para o Kashima Antlers.


Ainda que os times da sua cidade sejam basicamente bandos de zumbis anões obesos mancos, você, segundo a doutrina dos censores futebolísticos, será obrigado a assistir a campeonatos disputados em campos de várzea, gravados pela tevê em fita VHS – mesmo que na sua televisão você possa acompanhar quase qualquer outro futebol ao redor do mundo.


Não. Pela doutrina do futebolisticamente correto, você é obrigado a permanecer blasé ante qualquer coisa que aconteça no ludopédio fora de sua cidade.

De preferência, não deve nem ligar a televisão.

Ir ao estádio ver um time que não seja da sua região macroeconômica, então, é considerado um crime de lesa-pátria.


Já está na hora de acabar com essa estorinha de chamar de “vergonha de num-sei-onde” os que torcem para os times de fora.

Até porque duvido muito que essas pessoas que andam por aí com plaquinhas dizendo-se orgulhosas de seu bairrismo irão apontar uma plaquinha com os dizeres “vergonha do Brasil” para quem assistir a um show do iul-tchu ou de qualquer outra banda gringa.


Me poupem.

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