quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pois é.

Tava por aí. Bonito, cheiroso, pedante, teimoso, fazendo finta.

Demorei um pouco pra passar por aqui; é verdade.
Mas é que acabei acometido por aquele silêncio de quem tem muito pra contar. Coisa de moleque, sabem?, que chega do passeio do colégio e só consegue dizer “foi bom”.

Foi bom. Está bom.

Que mais? Por onde começar (se é que existe mesmo um começo)?

Como sempre, já é tarde da noite.
É só agora que minha cabeça começa a funcionar. No resto do dia, é como se andasse, comesse, falasse por puro instinto. Só agora sinto cansaço, fome, sede. Penso.

Gosto da sensação de estar acordado enquanto a cidade toda dorme. Me sinto um clandestino debaixo do meu próprio teto, Violo as leis da natureza. Roubo do tempo. Ganho minutos preciosos da minha própria companhia. Enfim sós. Enfim só.

Queria ter uma vitrola. Pena. Não tenho. Prefiro quando a voz da Lady Day vem arranhada pela agulha. Sempre que começo a escutar, penso numa frase que ouvi certa vez: "quando Ella Fitzgerald canta que o homem dela foi embora, você pensa que ele foi à esquina comprar cigarros. Quando Billie Holiday cantava a mesma frase, você podia ver o sujeito fazendo as malas, pegando o carro e indo embora para sempre".

Engraçado. Neste instante um carro passa lá fora. Vai ou volta? Será que eu me importo com isso? Eles se importam?

Não fumo. Não vale a pena sacrificar meu pulmão por essa imagem lúdica. Mas não nego que seria bom ter algo entre o médio e o indicador, olhos fechados, mão seguindo o compasso. “All of meeeeee, why not take aaaaall of me?”. Não quero dormir. “Caaaaaan't you see? I'm no good withooooout you”. Poderia escutar isto pra sempre. “Take my liiiips, I want to loooooose them”. Apago a luz. “Take my aaaarms, IIII’ll never uuuuse them”. Só a penumbra que vem de fora e a luz do monitor.

Não tenho vontade de escrever. Não tenho nem vontade de pensar.

Sentir, sentir, sentir... Aqui, agora, não é proibido.

Envolvido. Pelo som do quarto, pelo silêncio da noite.
“Why not take aaaaall of me?”

Equilíbrio: o corpo relaxa, descansa, enquanto a cabeça vai longe, passeia por ruas, cidades, pessoas.

Bom. Muito bom.
Simples assim.

2 comentários:

  1. Rapá, deu pra sentir aqui a mesma coisa...

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  2. Desisti de comentar. Primeiro porque comento e é um eco só! Segundo porque você já disse que "tava bonito, cheiroso...". Pleonasmo. Agora vou falar o quê?

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