Seu braço pendia sobre o pescoço dela como se fosse um animal morto, frio.
Olhavam juntos, calados, para o mesmo ponto (se é que dava pra chamar aquilo de olhar: as pálpebras caídas, as pupilas sem brilho).
Era como se enxergassem por mera obrigação imposta pela natureza. E era como se escutassem por obrigação, respirassem por obrigação, gostassem por obrigação.
Ele percebeu o exato momento: aquele sorriso inoportuno denunciava se não uma revolução, ao menos um movimento.
Ele, o que houve, ela, acabou.
Foi ali que a sua vida mudou.
Já gostara e desgostara muitas vezes depois daquele dia, e em todas elas largou a sua quota de braços e olhos blasé.
Mas mesmo com todas as distrações, aquele sorriso nunca lhe saiu da memória.
Não o tempo todo, mas numa frequência que o permitia dizer ser um incômodo.
Nem era tanto a perda (que ele já tinha superado há muito) que o torturava, e sim a pergunta, irrespondida e irrespondível: “por quê?”
Agora, ele estava ali com ela.
Não aquela “ela”, do começo. Outra “ela”.
Impossível dizer se felizes ou tristes.
Olhavam (se é que se pode chamar aquilo de olhar, blablablá...) aquele casal que trocava beijos ardentes e juras de amor eterno.
Por causa deles, acabou lembrando do que um dia foi capaz de sentir.
Veio-lhe novamente na boca aquele sabor de promessa sincera, de sonhos sôfregos de um futuro necessário, lado a lado.
Há quanto tempo não sentia aquilo...
Valeria a pena viver sem esse amor destinado, desregrado, desesperado?
Não sabia a resposta, mas sentiu-se vivo simplesmente por ter formulado a pergunta.
Sorriu.
Ela, o que houve, ele, acabou.
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Ahhhh, por que sempre tem que acabar? :(
ResponderExcluirTaí. Queria tbm saber por que sempre há uma pergunta irrespondida e irrespondível... Que não deixa a gente esquecer... Por quê???
ResponderExcluirOs leitores conclamam: atualização djá!
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