quarta-feira, 30 de junho de 2010

Et omne misterium conocetur?

Domingo, 26/06/2010, 0h48.
Última conversa.

Pra falar a verdade, lembro-me de ter tirado satisfações sobre aquela (pen)última mensagem: "Amo os srs. E tenho dito. Leo".

Onde já se viu? Que sentimentalismo era aquele?

0h54.
A última mensagem; o tom de sempre:
"Seja mais literal porr... Se é que me entende. hehe Ahhh [mlk] se entende. Gostei de estudar 16s com vossa frq sonora."

16 segundos...
16 segundos!

14 anos...

Ca-tor-ze anos.

Soa tão estranho, que não pode ser verdade.
Mais da metade do tempo que passei neste mundo.
Em cada 2 momentos importantes da minha vida, ele estava lá em 1 vírgula alguma coisa. Muita coisa.

"Gosto de revisitar minhas primeiras impressões. Elas são inevitáveis e tão sólidas como um bom momento que fica no passado. Alguns dirão para a posteridade." - ele me disse.

Sinceramente, não fui atento assim a ponto de ter impressões tão sólidas no primeiro instante.

Vem-me à mente apenas uma feira de ciência tão insossa quanto infantil, e um cara risonho que, por alguma dessas peripécias do destino, fez parte dela, junto comigo.
Do projeto, não tenho a mínima recordação. Nem das terceiras pessoas que lá estavam.
São raros os projetos e as pessoas que marcam as nossas vidas.

Ele marcou.
Ele fica.

Estudamos juntos, moramos juntos, viajamos juntos.
Sofremos juntos, rimos juntos.

Caramba!

São tantas coisas que me passam pela cabeça agora, que me sinto nauseado.
Uma montanha russa que já dura um dia, numa sequência ininterrupta de loopings.

Será que amanhã vai parar de doer?
Será que só no mês que vem?
Será que nunca vai acabar?

Não é uma dor metafórica; é física!

Eu já sabia o que era perder um amigo, mas nunca poderia imaginar o que é perder um irmão.

Sinto-me ridículo e impotente.
Busco sentidos onde só há silêncio e vazio.

Fico como um maluco pensando em uma forma de resumir tudo.

E ele, sempre um passo à frente, já a conhecia no domingo, às 0h48.
Só me resta retribuir da mesma forma.

"Amo o sr. E tenho dito. Fábio".

Adeus.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Eu?Ropa! - Parte LXI - Traumas Iltda.

Alguém, por favor, me explica essa desagradável mania europeia de não colocar trancas nos banheiros?

Se alguém entrar quando você estiver lá, reinando, será ruim. Mas até vá lá; dá pra superar...

Agora imagine-se desprevenido, entrando no banheiro enquanto é o seu amigo quem ocupa o trono.
Haja terapia!

Eu?Ropa! - Parte LX - Maldições Iltda.

Aquela mania de pegar o "night train", por alguma razão, estava pegando.
E aquela noite, em especial, foi maravilhosa (cof, cof).

Feitosa, como de costume, roncava mais que cuíca em dia de desfile de escola de samba.

O iPod - única arma contra os bizarros e desafinados grunhidos -, depois de algumas horas tocando no volume máximo, desfaleceu de cansaço.
De uma hora pra outra, Hector deixou de ouvir sua sinfonia e passou a escutar um "Ruóóóóóóóóóóóóóóóóc".

A noite estava irremediavelmente perdida, e ele soube disso naquele exato momento.

Morfeu lançara-lhes a todos uma terrível maldição: se Feitosa dorme, o mundo acorda.

Eu?Ropa! - Parte LIX - Onipresença

Saio do trem, e eles estão lá.
Vou almoçar, e eles estão lá.
Chego a uma praça, e eles estão lá.

Foi assim em Amsterdã, Bremen, Copenhague, Hamburgo, Berlim, Dresden, Praga, e agora na Cracóvia.

Ainda não consegui descobrir se são vários, ou se é o mesmo grupo de japoneses que está me seguindo.

Começo a ficar preocupado.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Eu?Ropa! - Parte LVIII - Oswiecim

A frase sobre o portão já é assustadora: "ARBEIT MATCH FRIE".
Não pelo conteúdo - "o trabalho liberta" -, mas por aquilo que significou. Melhor: ainda significa.

Não seria exagero dizer que visitar - digo, conhecer - Auschwitz (em Polonês, "Oswiecim") é um divisor de águas.

Até onde pode chegar o homem?

Impossível pensar, falar, escrever sem sentir algum desconforto.

Refletir é penoso.

É muito fácil pensar (falar e escrever) que os erros do passado são imperdoáveis e injustificáveis.
Poucas são as vozes que se levantam agora - todas elas, evidentemente, sociopatas, psicopatas e quantos patas mais existirem - para apoiar os absurdos perpetrados pelo nazismo.

Mas, há pouco tempo, eram muitas.

Imputar os atos bárbaros a personalidades desviadas é uma vergonha assombrosa.
A culpa é de cada um de nós.

Certamente, daqui a algumas décadas, as futuras gerações, com o dedo em riste, culparão a nossa por permitir atos tão grotescos quanto aqueles que hoje condenamos.

A questão é: há um genocídio acontecendo do lado da sua casa neste momento.
Eu disse "um"? Na verdade, quis dizer "muitos".

E o que você vai fazer sobre o assunto?
O mesmo que fizeram eles: nada?

Já passou há tempos a hora de agir.
É preciso, antes de mais nada, recuperar o tempo perdido.

Não há deuses.
Só o homem pode salvar a humanidade.

Eu?Ropa! - Parte LVII - A pior pizza de todos os tempos

Sabe aquelas horas em que dá uma vontade doida de comer alguma coisa? Não é exatamente fome... Está mais para uma obsessão por alguma guloseima específica.

Pois bem. Aquele dia inteiro pensaram em comer uma pizza daquelas bem saborosas...
Passaram por vários restaurantes antes de entrar, mas Feitosa, como de costume, recusou todos eles com seus irretorquíveis argumentos habituais: "Não gostei das fotos dos pratos", "Estou achando este meio isolado", "Não gosto de restaurantes que começam com a letra 'A'", "Muito caro", "Muito barato", dentre tantos outros despautérios.

Quando finalmente acharam uma pizzaria que não sentiu, em três segundos, a força de seu veto, apressaram-se a entrar.

Eis os fatos, exatamente como ocorreram dali por diante.

Sentaram na mesa ao fundo. Marley de frente, Hector de costas para a garçonete. Feitosa foi ao banheiro.

- Puta merda! Não acredito...
- No quê? Coelhinho da Páscoa? Papai Noel? Alemão simpático?
- A mulher está pegando uns pedaços de pizza do mostruário e colocando numa travessa!
- Ahn?

Hector consguiu virar-se a tempo de ver a garçonete com uma mão coçando as nádegas e a com a outra colocando a última fatia de pizza para ser servida.

Foi posta na mesa exatamente daquele jeito: fria, velha, sem pratos, talheres, condimentos...

Quando Feitosa voltou do banheiro, não conseguia acreditar: "Já?!"

Não teve resposta.
Estavam todos atônitos...

Eu?Ropa! - Parte LVI - Fantasminha

Estava escrito assim: "Imagine-se dormindo suavemente embalado pelo suave balanço do trem e despertar relaxado no seu destino na manhã seguinte, descansado e pronto para um dia de passeio".

Quando, na verdade, a realidade é: "Imagine-se chacoalhando num vagão velho e poeirento, tentando, entre curvas e paradas, dormir num beliche triplo ridiculamente pequeno, e despertar num susto, acabado, com a cara amassada e cheia de remela, minutos antes do momento de ter que descer, às pressas, do trem".

E foi exatamente assim que chegaram à Cracóvia, Polônia, às 6h54 da manhã.

Ainda se recompondo da noite mal (não) dormida, e sem um zloti furado no bolso, desceram do trem os três herois que vocês já estão cansados de conhecer.

Depois de muitas mímicas, Hector conseguiu descobrir que o trem para Auschwitz partia às 7h03. Nove minutos, portanto.

Não havia tempo a perder.

Lançando-se às ruas daquela cidade até então desconhecida, conseguiram descolar algumas poucas moedas para pagarem os armários que guardariam suas mochilas, bem a tempo de subir no...

"Caceta! 'Isso' é o trem?!"

Pichações, janelas quebradas, bancos de madeiras, a entidade foi logo entitulada de "Fantasminha".

E foi nela que partiram os três.
Chegariam a algum lugar?

Homenagem ao comentarista anônimo

Neste último fim de semana, muitas pessoas vieram me cobrar a continuação das estórias.

A vocês, só tenho uma coisa a dizer:

Obrigado!

Escrever é uma coisa séria que eu levo na brincadeira, e este blog é uma brincadeira levada a sério.

Vocês podem estar aí lendo no total silêncio, ou ao som de um aconchegante tecnobrega, mas não se iludam: eu estou aqui berrando.
Berro porque os quatro cantos dessa tela (ou desse papel) são para mim um espaço muito maior - posto que ilimitado - do que o universo.

Então, me cobrem, me façam sugestões, me critiquem, me chamem-de-cachorro-que-eu-faço-au-au.

A casa é nossa, e ela é muito, muitíssimo mais bagunçada que a da Mãe Joana.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Eu?Ropa! - Parte LV - %

Não se pode dizer que Marley é um consumista desenfreado, feito Feitosa ("feito Feitosa"... Entenderam? Hein? Hein?).

Pelo contrário, ele geralmente passa pelas lojas sem nem sequer notar sua existência.

A sua fixação é mesmo só com promoções.
Marley consegue enxergar um símbolo de percentagem a quilômetros de distância.
E cria a partir dele uma necessidade.

Só para vocês entenderem, dou um exemplo fictício, porém verossímil: Marley enxerga, a vinte quarteirões de distâncias, uma loja oferecendo 10% de desconto em carrinhos para bebês trigêmeos:
- Pô! Tá muuuuuuito barato! Já pensou quanto ia ser se fosse comprar isso no Brasil? Tá doido! Vou levar! Quero dois!

Foi por causa deles, os %s, que Marley acabou comprando pares de tênis ("No Brasil, eu compro um cadarço legal..."), calças grandes ("É só apertar o cinto!"), camisas pequenas ("Vou fazer um regime assim que chegar"), e por aí vai...

Até onde eu tenha notícia, o cadarço ainda é o mesmo, a calça está caindo, e a camisa não passa nem do pescoço.
Ah! Os carrinhos continuam guardados... Felizmente.

Eu?Ropa! - Parte LIV - O Marronzão

Aquele casaco marrom já tinha dado o que falar.

Marley, toda vez que o colocava, fazia questão de explicar: "Pô! Comprei num brechó... Quarenta reais... Até que está bom, né? Hehe (risada de satisfação)".

Como não tinham coragem pra contestar, Feitosa e Hector só soltavam um risinho amarelo, e levantavam as sobrancelhas, condescendentes.

A primeira prova concreta de que não estava legal foi ainda em Amsterdã.
Já de madrugada, muito frio, a caminho da estação, todos colocando apressada e desesperadamente as mãos no bolsos dos casacos...
Marley tomou o primeiro susto: "Ih! Não tem bolso! É só enfeite! Ó..." - dizia, enquanto mostrava os inúteis e horrorosos apetrechos.

Não foi o bastante.
Dia após dia, insistiu em ostentar a peça.

Demorou uma semana para que, finalmente, confessasse.
Num sussurro, para que ninguém mais ouvisse, comentou:
- Estou começando a achar que esse meu casaco-marrom-de-camurça-com-bolso-falso está fora de moda... Não vi ninguém usando, além de mim.

Mas o golpe fatal veio só em Berlim.
Hector e Feitosa olhavam, tranquilos, as fotos tiradas, quando, de repente:
- Puta merda! Esse casaco é muito feio! - gritou Marley, provando que uma imagem vale mesmo mais que mil palavras.

Haveria alguma salvação?
É verdade que as fotos até então estavam irremediavelmente perdidas, mas, dali pra frente... Quem sabe?

Esbaforido, saiu logo cedo no dia seguinte, em busca de um substituto à altura para o Marronzão.

(Um minuto de silêncio)

E a traumática experiência...

Peraí! Já esperou um minuto?
Vocês, hein? Que falta de respeito! Rãn!

E a traumática experiência com bolsos vivida há pouco certamente influenciou em sua escolha.
Tanto é que escolheu um casaco com nada mais, nada menos que cinco deles!

Quatro na frente, um por dentro, não faltaria lugar para colocar suas mãos nos dias mais frios...
Além delas, guardava: dinheiro, passaporte, um livro, um minisystem, dezesseis mapas da cidade, guia de viagem, kit de sobrevivência na sela, duas garrafas de água e - claro - seu inseparável amigo iPhone.

Tão extravagante era o seu casaco que logo foi apelidado de "Casaco de caçador", ou, para os mais íntimos, "Hunter jacket".

Só que, com aquela roupa, não há dias de caçador.
Um é da caça... E todos os outros também.

Eu?Ropa! - Parte LIII - É se-le-çón!

O Inglês não era lá grande coisa.
O Espanhol, pior ainda.

Marley resolveu, então, criar um dialeto próprio, o Esportunglês.

Tentava levar um papo com alguns hermanos argentinos, mas esbarrava no obstáculo linguístico.
Eles não entendiam o Espanhol brasileiro, e Marley não entendia o Português argentino.

Aí, veio uma ideia brilhante: puxar a conversa para o assunto coringa universal, aquele que propicia a comunicação com qualquer ser vivo do planeta, de taxista húngaro a executivo japonês... Futebol!

"Vocês know aquele player mucho conhecido em Brazil*? The Robinho?"

Percebendo a inércia de uma plateia atônita, emendou: "Róbenes!" (desta vez, puxando bastante o "r", para imitar o sotaque portenho).

O azar foi que, pela primeira vez, todo mundo entendeu!
Risada geral.

"Róbenes" é demais, demás, too much...


* Com sotaque de americano cantando samba-enredo.

Eu?Ropa! - Parte LII - Cuidado

Marley demorou uns dez dias pra descobrir o que Hector já percebera há muito: Feitosa não sabe tirar foto.
Corta o pé, rapa a cabeça, tira contra a luz, enquadra errado...
É sempre bom conferir, pra ver se ficou legal.

Eu?Ropa! - Parte LI - "Nossa! Você visitou Amsterdã, Berlim e Praga no mesmo dia?"

Esse negócio de ficar repetindo a roupa é fogo...
As fotos sempre ficam confusas!

Eu?Ropa - Parte L - Ooooolha o passariiinhou!

São muitas fotos.
Não. Vocês não estão entendendo... São muitas fotos MESMO!

Mas, olhando-as, dá pra perceber que a criatividade nas poses não é o nosso forte.

Basicamente, são seis:

1 - Estátua
Braços esticados ao lado do corpo, sorriso forçado.
Indicada para monumentos históricos ou respeitosos.
"Tira logo, pra gente ir embora!"

2 - Rapper
Pescoço quebrado para o lado, mãos para a frente fazendo sinais de malandragem.
Indicada para praças e jardins, sempre em dupla.
"Rá! Olha as gatinhas... Tão olhando pra cá? Ué? Por que estão rindo?"

3 - Sentado descolado
Como o nome já diz, sentado.
Geralmente, é a segunda foto, logo após a da estátua.
Indicada para monumentos históricos.
"Hum! Vai ficar beleza! Assim eu escondo a minha pança..."

4 - Auto-retrato
Vire a câmera ao contrário, estique o braço, e clique. Depois, clique de novo. Mais uma vez. Outra. Pronto. Agora, acertou.
Contra-indicada para todos os ambientes. Fica sempre uma bosta!
"Essa vai pro Orkut!"

5 - Foto contemplativa
Olhando, fingidamente, para os lados.
Indicada para paisagens extensas.
"Será que já tirou? Melhor esperar mais um pouco... Eu fechei a janela quando saí de casa? E o gás? Caceta! Por que é que eu estou aqui parado, mesmo?"

6 - Surfista
Hang loooooooooooooooose.
Indicada para quando, na iminência do clique, você ainda não conseguiu pensar em nada.
"Pô, Feitosa! Espera eu fazer alguma pose... Tira outra, vai!"

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Diga que valeeeeu!

Acabo de receber a notícia de que Saramago morreu.
Morreu.
Não "faleceu", não "descansou", não "foi pro céu". Morreu.

Falo isso porque as pessoas precisam começar a se acostumar com o fato.
Todo mundo vai morrer um dia e, até que me provem o contrário - "com certidão passada em cartório no céu, e assinado embaixo: 'deus'" -, não há nada após a morte.

Ou melhor, para aquele que morre, nada resta após bater as botas.
"Mas também é certo, se isso lhe serve de consolação, que se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as conseqüências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala".

As palavras são do próprio Saramago.

E, numa época em que os novos clássicos têm o quilate de "Os cavalinhos de Islamabad" e "Pai bilionário, filho triliardário", ele tem, sob o meu modesto ponto de vista, enormes méritos.

Sendo um grande escritor - como ainda existem muitos -, conseguiu aventurar-se com sucesso - como conseguem poucos - em um mercado editorial encharcado de lixo.
E, melhor de tudo: em nossa língua irmã, o Português.

É deliciosa literatura, concordando ou não com as suas ideias.

Saramago, certamente, vai deixar saudade.
Fez por merecer o respeito (e as reportagens e coletâneas) que deve receber agora.


E.T.: Ô!, Veríssimo, vê se não vai me aprontar uma dessas, tá?

Eu?Ropa! - Parte XLIX - Cachorro? Banana? Ah! Sabia... Batata frita...

O dia a dia em Praga não é fácil para alguém que não fala Tcheco (a maioria esmagadora das pessoas, imagino eu).

É quase impossível encontrar alguém que fale Inglês.
Opção, geralmente, é o Russo - o que, cá entre nós, não é grande vantagem.

Números até que são fáceis de entender; é só escrever na calculadora e pronto.
"Sim" é a cabeça balançando na vertical. "Não", na horizontal.

Agora, tente comprar um Emozec...

O engraçado é que os tcheos já estão tão acostumados com o festival de gestos, que até se animam quando alguém tenta pedir uma coisa diferente.
Não é raro, por exemplo, formar-se um grupo de garçons em frente ao cliente que fica em pé, estica os braços em cima da cabeça, faz "tssssssssssssssssh", "nhac, nhac, nhac", mexe o indicador em círculos e termina mostrando o número "um".

Acertar é uma emoção tão forte quanto rara.

O rapaz acima, por exemplo, tentou pedir uma porção extra batata frita, mas acabou tendo que comer pizza de pepino com alcachofra... Uma pena.

Eu?Ropa! - Parte XLVIII - Ih!, choveu...

Depois de tanto tempo de frio, aquele dia quente e ensolarado foi recebido como uma bênção.
Pena que a animação tenha levado a uma severa displicência...

No meio da tarde, quando estavam nos jardins do castelo, a chuva começou.
Quase instantaneamente, a temperatura caiu uns dez graus.

E aí, trajando bermudas, morrendo de frio, tomando chuva e sob protestos de Feitosa (que enquanto era arrastado berrava que iria esperar até ela passar, nem que fosse preciso dormir embaixo da marquise), tiveram que descer correndo as escadarias.

Amaldiçoaram-na.
Que praga (ahn! Ahn!).

Eu?Ropa! - Parte XLVII - "Boêmio e intelectual aventureiro"? Quem? Eu?

Qualquer ser humano minimamente instruído já ouviu falar em Marx.
Muitos sabem mais ou menos de quem (ou do que) se trata.
Só algumas centenas conhecem, de fato, os seus pensamentos.
Meia dúzia leu "O Capital".
Ninguém no original.

Mas a verdade é que, no mundo ocidental - com maior furor nas faculdades de História, Sociologia, Filosofia e congêneres -, a babação de ovo é generalizada.
Marxismo pra cá, marxismo pra lá, blá, blá, blá...

Tem gente que até perde os cabelos discutindo quem segue melhor as teorias do Karl ("Kaká", para os íntimos): se o trotskismo, se o stalinismo, se o melenderismo (ok, ok; esta última eu inventei).

Até aí, vá lá.
Mas, acreditem ou não, tem quem o faça sóbrio.

Fato é que, por aqui, questionar o Kaká (Marx, não o jogador de jeito afeminado) pode ser mais perigoso para as reputações do que urinar na batina do papa em plena missa do galo.

Uma vez, por exemplo, vi um pobre coitado perguntar, inocentemente: "Ué? Mas o Marx não disse que a revolução ia acontecer na Inglaterra?".

Foi expulso da roda de discussões sob vaias, protestos e xingamentos da pior espécie.
Os ânimos só foram amenizados quando um sujeito mais exaltado tascou um grito de "democrata", no que foi também imediatamente excluído da conversa sob a opinião unânime de que "pegara pesado".

Bom, a verdade é que o Kaká não goza no Oriente dessa mesma reputação sacra.

Uma placa em Praga, por exemplo, anuncia que: "A prática do terror revolucionário e da ditadura do proletário foi justificada pelos comunistas por uma alegada irrefutabilidade das teorias 'científicas' de Karl Marx, o boêmio e intelectual aventureiro, que começou sua carreira como um poeta romântico com uma inclinação para o apocalipse titânico. As tentativas de execução das teorias marxistas custaram, de acordo com estimativas contemporâneas e menores, cerca de 100 milhões de vítimas humanas".

Aliás, mudando de assunto, "alegada irrefutabilidade", "apocalipse titânico", "milhões de vítimas humanas"...
Não sei por que, mas isso me lembra alguma coisa...

Bem, melhor deixar pra lá.
Afinal, ninguém quer ir pro inferno, né?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Eu?Ropa! - Parte XLVI - Uma vodka, duas vodkas, três vodkas...

Foram a um pub em Praga.
Em meio a um grupo com bandeiras da Dinamarca pintadas nas bochechas, dois adolescentes brasileiros.

Papo vai, intercâmbio em Copenhague, papo vem, excursão do Rotary, um deles começa a tomar minishots de vodka.
"Já tomei 7!"
"Ih! Vocês são muito fracos... Já bebi 15!"

Às escuras, então, foram feitas as apostas: quanto tempo ele aguentaria em pé?

Ganhou quem disse 10 minutos.

Saiu carregado, jurando não beber nunca mais.
Já vi essa cena antes... Não é o tipo de promessa em que eu costumo botar fé.

Eu?Ropa! - Parte XLV - Gancho

Impossível esquecer.

Estava abrindo a sua bolsa com apetrechos de banho e, sem querer, um gancho de uns 5 centímetros entrou no canto do seu olho, e ali ficou preso.
Precisou de muito sangue frio para tirar de dentro aquele negócio.

É impressionante o que o corpo sente no momento em que se vê ferido.
O alerta, a adrenalina, a rapidez no pensamento...
Só mesmo milhões de anos de evolução para explicar a máquina fantástica que é o homem.

Além dessa sensação, ficou o alívio.
Alguns milímetros para o lado, não tivesse o ganho entrado exatamente naquele ínfimo espaço entre o olho e o nariz, e estaria cego.

A pálpebra inchada nem incomodou tanto.
Poderia ter sido muito pior!

Eu?Ropa! - Parte XLIV - É campeã!

Quando passaram pela Praça da Cidade Velha, em Praga, ficaram impressionados.
Além de um show, havia milhares de pessoas com o rosto pintado e bandeiras da República Tcheca.

Vestiam todos um mesmo uniforme: grandão, com um escudo enorme na barriga.

Era dia da final do Campeonato Mundial de hóquei no gelo (esporte que, em preferência nacional, só perde para o futebol).
E o jogo era logo contra sua maior inimiga.

Para felicidade geral dos tchecos - e também a nossa, por que não? -, venceram os russos por 2 a 1.
Festa na cidade.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Eu?Ropa! - Parte XLIII - É o quê?!

Quem achava que o alemão era complicado tomou um baita susto quando entrou na República Tcheca.

Enquanto Marley e Hector pediam informações, Feitosa tentava descobrir como fazer uma ligação no telefone público.
Olhava meio de longe, aproximava um pouco o rosto, voltava.

Parecia até que estava mexendo com algum bicho peçonhento.

A cena durou uns três minutos.
No final, virou as costas, e desistiu de ligar.

Compreensível.
Afinal, quem entende um acento circunflexo ao contrário em cima do "c"? E um acento em cima do "y"?

Coisa de doido!


Tradução: "Alienígenas de monocelha estão proibidos de pintar a mão de preto"

Eu?Ropa! - Parte XLII - O importante é competir

Bayern Munchen contra Internazionale de Milão. Final da Copa dos Campeões da Europa de 2010.
Em um cinema lotado de Dresden, centenas viram o time alemão ser vice-campeão.
Dando um zoom na cena, vocês podem notar Hector e dois brasileiros sorridentes brindando com muita (nem tanta assim) discrição.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Liberou geral

Atendendo a pedidos, agora todos estão permitidos a fazer comentários por aqui...

Foi mal, galera!
Não sabia que precisava autorizar.

Valeu o toque (no bom sentido, claro).

Eu?Ropa! - Parte XLI - Dresden

Dresden é legal.
Tão legal, que nem parece Alemanha...
Aliás, o único defeito de Dresden é exatamente o fato de ser uma cidade alemã.

Uma pena.
Fosse em outro lugar, mereceria uma visita mais demorada.

Eu?Ropa! - Parte XL - Um minuto de silêncio

Há algum tempo, li algo que me fez refletir: grandes descobertas são sempre precedidas de grandes expectativas.
A frase exata eu não garanto, mas o pensamento - descartada a hipótese de uma grande sacanagem do tradutor do livro -, tenho certeza que é de Nietzsche.

E ele me serve como uma luva, agora.
Não só por ser alemão, mas também por oferecer um prognóstico tenebroso sobre o futuro daquele país.

Hitler ascendeu ao poder pela força, mas só se manteve lá porque encontrou respaldo na mentalidade (rasa e xenófoba) de um povo.

É inegável que foi também pela força que caiu.
Mas é com pesar que se vê que a cabeça dos alemães não mudou tanto quanto deveria.

Preconceito por lá é coisa do dia a dia.
Mais do que não ser coibido, é aceito e estimulado.

Portanto, a questão, pra mim, não é "se" vai acontecer de novo, e sim "quando".

Nem vinte Jesse Owens nem cem guerras vão conseguir mostrar aos arianos que eles não são superiores.

É para se ter medo. Muito medo!

domingo, 6 de junho de 2010

Eu?Ropa! - Parte XXXIX - A sorte não sorri para todos

Pô! Era uma quinta-feira, e estávamos em Berlim.

Pelo menos uma cervejinha tínhamos que tomar (ou, como diria um amigo meu, "ficar de booooa, tomando uma cervejiiiinha, olhando as gatiiiiiinhas")...
Podia até ser quente (blergh!), do jeito que eles gostam.

Seguimos as indicações mais indicadas (com o perdão pela redundância), e atravessamos a cidade.
Ao que parecia, haveria um pub bem movimentado no Zoologischer Garten.

Depois de pegar dois trens e andar uns bons quarteirões na noite fria, a surpresa foi desagradável: meia dúzia de senhores de meia idade, de pileque, dançando num ambiente decorado "a la" bordel de quinta categoria.

Nova tentativa, então: Hackescher Markt.
Dessa vez, nada. Digo, meia dúzia de prostitutas de meia idade, na rua, vestidas "a la" quinta categoria.

Não havia mais o que fazer.
O melhor mesmo era pegar o trem e usar o bar do hotel.

Mas, como desgraça pouca é bobagem, descobrimos que o último trem já tinha passado; há uns trinta segundos, mais ou menos.

Ah!, que delícia...

Pagamos para acabar ouvindo o taxista dizer, na maior naturalidade, que o único lugar movimentado em Berlim na quinta à noite ficava exatamente na frente do hotel.
Para ser mais exato, dava até pra ver da nossa janela.

Não era o nosso dia.

Eu?Ropa! - Parte XXXVIII - Noite de gala

Abraçou a Britney Spears, dançou com a Jennifer Lopez, chocou os passantes ao dar um tapa na bunda da Beyonce.
Esse Madame Tussaud é mesmo supimpa!

Eu?Ropa! - Parte XXXVII - Pelas ruas que andei, procurei

Chegaram na estação central de Berlim e, incorporando o espírito mochileiro, colocaram seus pertences nas costas e foram procurar o seu pouso para as noites que estavam por vir.

Feitosa, como sempre acontecia em caminhadas de mais de 67 centímetros e meio, reclamava por não terem pegado (antes que me venham com "pégos" e "pêgos", aviso logo que o certo é "pegado" mesmo) um táxi.

Depois de muito andar, com todo o peso que insistia em empurrá-los para baixo (a força da gravidade na Alemanha, infelizmente, não é menor que no Brasil), chegaram ao hotel.

Passaram algum tempo argumentando com o recepcionista. Tinham o incontestável trunfo de terem recebido a confirmação da reserva.
Mostraram até o código...

...que era de outro hotel, na direção diamentralmente oposta.

Dessa vez, não teve conversa.
Feitosa esticou a mãozona e pediu um táxi.
E "ai" de quem ousasse falar alguma coisa.