terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carnaval em Salvador - A Saga - Parte VI - O Aeroclube

Se você nunca foi ao Carnaval de Salvador, não vai entender.Aliás, ainda que você tenha ido, não vai entender. E quem souber, que explique: por que diabos o lugar mais cheio de todo o Carnaval não é o bloco, e sim o Aeroclube?
Ainda tentando se livrar do gosto de meia usada na boca, e com um monte de abadás que ele NUNCA pretendeu usar (uma sábia voz tinha aconselhado: “Compra esses, que lá você consegue o que você quiser”), a missão parecia simples: trocar uma camisa vermelha por outra cinza.

Mas nada é tão simples no Carnaval de Salvador...

É só descer do carro, que eles aparecem.
Chegam como formigas atraídas para um pote de açúcar gigante.

O problema é que o pote está embaixo do seu braço, cuidadosamente guardado em uma sacolinha de supermercado, e as formigas têm três vezes o seu tamanho – no caso de Hector, só duas.

O negócio funciona mais ou menos como uma Bolsa de Valores.
Se você quer vender, tenta um preço mais alto; se quer comprar, mais baixo.

Só tem um probleminha: as formigas TAMBÉM conhecem o truque!

E o que dizer da pergunta: “Quer comprar por quanto?”?
A vontade é de responder “Olha! Essa camisa deve valer uns R$5, mas eu pago R$10, porque achei bonita a combinação de vermelho, roxo e cor de abóbora”...

Mas você, esperto que é, não vai fazer isso. Afinal, pode ser a última formiga querendo vender a camisa vermelha, roxa e abóbora, que é exatamente aquela do bloco ao qual você quer ir...

Então, meu amigo, o negócio é entrar no jogo.
Há várias estratégias... Exemplos:

1) Formiga: “O que você está vendendo aí?”
Você: “Er... Aqui? Onde? Na minha mão? Nããããão! Este é o lanchinho da minha avó. Mas, se eu quisesse vender a camisa do Vale Náite, quanto você pagaria?”

2) Você: “Quanto tá o Reboleichon?”
Formiga: “Tanto [não importa o valor]”
Você: “Não! Está muito caro! [você não faz ideia do preço]”
Lentamente, então, você vira o corpo, mantendo o canto de olho focado na formiga, pra testar a reação dela.

E a mais comum de todas:
3) Formiga: “Bloco da Ifat na minha mão é R$200, hein?”
Você: “Quero três!”
E faz cara de otário... Porque é otário, mesmo!

Carnaval em Salvador - A Saga - Parte V - Dia de festa é véspera de muita dor

Tic, tac, tic, cutuca...

9h30 da manhã.
Nosso herói, Hector Pablo Melendez, sente a ponta de um pé na sua costela.

Tic, tac, tic, tac, cutuca, cutuca...

Talvez, se ele fingir que continua dormindo, o pé impertinente desista.

Cutuca, cutuca...

Pronto. Agora, não tem mais jeito.
Acordado, ele já está.
Resta-lhe apenas fingir-se de morto, e tentar mais cinco minutos de isolamento do mundo.
Tempo - quem sabe? - suficiente para descobrir o que está acontecendo.

A língua passa pelos dentes. Sem dúvidas, há muito uma escova não passa por ali.
Com a mão, ele nota que está deitado no chão.
Todos os ossos do corpo doem. Nenhuma lembrança da noite anterior.
Não é difícil notar que não está em casa.

Hector não tem dúvidas...
Com toda a sua perspicácia malemolente, ele conclui rápido: "Fui sequestrado".

Reunindo os restos de sua força descomunal, ele pula do chão para surpreender os seus malfeitores: "Ráááááá"!

Ao seu lado, de pé, Lete, esquivando-se com um preguiçoso levantar de sombrancelha, solta: "Até que enfim, hein? Você já está dormindo há 47 minutos... É carnaval, êêêêêêê! Vamos pro Aeroclube trocar os abadás?"*.

"Oba! Trocar os abadás?
Será que eles aceitam estes três de ontem, que eu estou usando?"

Pobre Hector... Mal sabia o que esperava por ele.


* Uma lata de energético faz com que Lete fique acordada - importunando - durante aproximadamente 3 dias consecutivos.

Carnaval em Salvador - A Saga - Parte IV - (silêncio)

Hector Pablo Melendez também sofre daquele mal: amnésia alcólica seletiva.

É! Você sabe muito bem do que estou falando...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Carnaval em Salvador - A Saga - Parte III - O Reboleichon

Acompanhem o set list.
"Vale Náite", "Reboleichon", "Dança do Vampiro", "Vale Náite", "Reboleichon", "Vale Náite", "Dança da Manivela", "Reboleichon", "Vale Náite", "Reboleichon"...

Notaram que, pra fazer Carnaval em Salvador, não pode ser qualquer um, né?
Afinal, quantos artistas neste mundão de meu deus tem um repertório tão variado e qualificado?

Você pode até pensar que eu estou exagerando...
Mas eu juro por papai do céu que é verdade!

No final, vi gente que já estava começando a misturar "Reboleichon" com "Vale Náite", e tentando enfiar o papelzinho você-sabe-bem-onde.

Aliás, não preciso nem perguntar se você ouviu o "Reboleichon"...
Decantemos a canção.
Ela dura aproximadamente 10 minutos - que, no caso de você ter bom gosto, vão parecer 100 -: 1 minuto para frases faladas em alta velocidade, 9 minutos para repetições exaustivas do refrão, que consiste de zero palavras em línguas civilizadas (ou vai me dizer que "Reboleichonchon, reboleichon" é Português?).

Depois, você não sabe por que o seu filhinho, o Carlos Astolfo, não quer ir para a escola...
"Astolfiiiiiiiiinho, para de rebolar desse jeito. Vai estudar pra ser médico feito o papai"!

"Ah!, não, mãe! Quero ser músico de axé ou advogado..."

"Amanhã, você começa as aulas de percussão!"

Carnaval em Salvador - A Saga - Parte II - Eu não quero o seu vale náite

Eu juro que ainda estava tolerante nesta hora.
Afinal, "todo dia é festa em Salvador"...

Passados dois minutos, a guitarra soou.
No alto do trio, não se via nada...
A guitarra continuou soando.
E soou mais um pouco.

Até que veio a voz: "Encontreeeeeeei a solução pra essa agoniaaaaaaaaaaaaa".
Todos pulando, braços para o alto, 37,82% dos desodorantes já vencidos...
"Peça o seu vale náite, e caia na foliaaaaaaaaaaaaaaa".

Eu juro que não sei explicar o que aconteceu nessa hora.
Como que ensaiados, todos os homens inferiores (no caso, todos os homens, exceto este exemplar único de virilidade alfa: Hector Pablo Melendez) puxam papéis do bolso e tentam trocá-los por contatos labiais voluptuosos com as... as... donzelas, digamos assim.

Olhando de longe, aposto que pensaram: "Quem é esse latino blogueiro sexy parado com olhar assustado?".
Povo perspicaz é o baiano...
Foi exatamente isso.

Numa fração de segundo, toda a minha vida passou diante dos meus olhos. De que adiantaram todas as lições de como se tratar uma mulher? Pra que serviram as aulas de identificação de estrelas? Por que decorar toda a letra de La Barca e ensaiar as coreografias do Wando?

O segredo estava ali, o tempo todo... É só pedir um vale náite!

Carnaval em Salvador - A Saga - Parte I - O Morro do Xixi

O Carnaval é mesmo algo impressionante...
Quando eu era pequeno (sem trocadilhos, seu mau caráter), aprendi com a Tia Teteca que o feriado era só na terça-feira.
Depois, vi que a festa ia mesmo de sábado à quarta.

E demorou um quarto de século para eu entender por que a Bahia se diz a terra do Carnaval.
Porr* ("Mããããããnhe, posso falar palavrão no meu blog?"), você entra num táxi em Salvador, em plena quinta-feira, e vê que já está na bandeira 2.
"Por quê, seu moço?" "Porque já é feriado!"
Sacaram? 5 dias antes da terça-feira, e ninguém mais trabalha!

Pois eu, Hector Pablo Melendez, que não sou brasileiro, mas adoro uma farra, tive que dar um jeitinho lá na academia (sexta-feira é fogo... Ninguém quer perder minha aula de lambaeróbica pós-contemporânea aplicada aos glúteos transversos), e consegui escapar para onde todos querem estar na semana da folia. Ou melhor, no mês da folia!

"Ah! Que bom você chegou, bem-vindo a Salvador..."

Eu mal podia acreditar.
Quinta-feira, e o Carnaval já estava começando... [suspiro]

Agora, era só esperar a Lete - vocês ainda vão ouvir falar muito dela, poucas vezes sóbria -, e partir, catito e pimpão, pra folia.

Opa! Peraí!
Lete, com o seu phD em micaretas veio logo avisando: "Antes, temos que ir pegar os abadás".
Se você não sabe do que estou falando, meu amigo, é bom anotar no seu caderninho.
Põe aí: coluna "Coisas que nunca vou fazer na minha vida". Item 1: Frequentar a Igreja Universal. Item 2: Tentar pegar os abadás no carnaval de Salvador.

Imaginou uma coisa ruim? Não! É pior!
Pra começar: cada abadá - entenda-se: camisa de qualidade inferior, tamanho superior, e pintada com motivos ridículos e patrocínios escandalosos - tem que ser trocado em um lugar diferente.
Com um detalhe para apimentar: o atendente de uma loja NÃO SABE onde fica a outra loja.
Aliás, nem os atendentes, nem os seguranças, nem ninguém!

Mas, enfim, abadás na mão (no caso da quinta-feira, um vermelho escandaloso com letras amarelas ainda mais), banho tomado, gel no cabelo, perfume caprichado, dose extra de desodorante, agora era só partir pro bloco...

Bom, partir é fácil. O problema mesmo é chegar!
Depois de mais de uma hora presos no engarrafamento - o que, no tempo baiano, equivale a 2 minutos e meio, "meu rei" -, era óbvio que tínhamos perdido o bloco.
Ou melhor, metade dele...
Veio uma voz salvadora (agora, pode o trocadilho): "Se vocês correrem até o Morro do Xixi, alcançam o bloco".

Pois bem. Pintem o quadro a seu gosto.
De uma hora pra outra, o tal Morro do Xixi virou o verdadeiro Eldorado!

E veio a recompensa. Uma cena emocionante [lágrimas escorrem]: como num passe de mágica, surgem vários da mesma espécie. No começo, esparsos. Depois, uma multidão de camisetas vermelhas escalafobéticas. Algumas, já ensaiavam o acasalamento... Finalmente, havíamos encontrado o nosso bando.

Começava, ao menos pra mim, o Carnaval de Salvador...

Hector Pablo Melendez

Soy yo.
Hector Pablo Melendez, con mucho gusto.

Aposto que, se você não me conhecesse, faria uma ideia errada de mim, não é?
Pensa que eu não sei?

Primeiro, iria logo me pintar um monte de espinhas na cara... Depois, uns óculos ridículos.
E a pochete? Tá... Era só pra guardar minha capa de chuva? Prrrrf!

Não! Como você vê, este blogueiro é diferente...
Ops! Ato falho! Eu sei que nem todo blogueiro tem problemas sexuais severos.
[Pausa]
Cof, cof...
Desculpe.

De onde veio essa ideia de que este 1,90m de pura carne e charme latino não poderia falar - ou melhor, escrever - ao seu coração? [Piscadela e beijo na mão]
Bom que já esclarecemos...

E, agora que já estamos íntimos, chega pra cá, porque vai começaaaaaaaaaar... O reboleichonchon, o reboleichon*.


* Sim. Hector passou o Carnaval em Salvador, e sobre ele comentará mais adiante, assim que se recuperar da infecção urinária, da crise de estresse, e do rombo (felizmente, só na carteira).

Os porquês

Você deve estar se perguntando, neste exato momento: "Qual o porquê deste blog?"...
E não está sozinho.

Tá... Você já olhou o contador aqui embaixo, e viu que ele ainda está no número 1.
Opa! Estranho!
Sua mão nervosa corre instintivamente para o mouse, a setinha pega uma diagonal subindo pra extremidade direita superior da tela, o "x" da barra de ferramentas já se prepara pra levar mais um daqueles cliques grosseiros e impacientes... Mas CALMA!

Este pode ser um blog diferente.

Ou não!
Parabéns! Clap, clap!
Agora, definitivamente, você está sozinho...
Nunca ninguém chegou tão longe.

Mas já que está aqui, aprendiz de Buda, que tal pegar um banquinho e se sentar?
Vai uma cervejinha? Ah! Não bebe? Eu, sim.

Deixe eu me apresentar, então...