domingo, 30 de maio de 2010

Eu?Ropa! - Parte XXXVI - Por que a galinha (não) atravessou a rua?

Todo mundo com mais de dez anos de idade sabe perfeitamente atravessar uma rua.
Ou, melhor: quase todo mundo.

Praticamente em fila indiana, andavam Hector, Feitosa e Marley, carregando seus pesados fardos às costas.

Em um cruzamento movimentadíssimo da Berlim, esperaram alguns longos minutos para que o sinal de pedestres ficasse verde.

Estavam exatamente no meio da rua quando - como costuma acontecer em todos os sinais de trânsito do planeta -, piscou a luz vermelha.

Marley então, num piparote, deu meia volta e se pôs a correr alucinadamente de volta para a calçada.

Quando finalmente conseguiu atravessar, ainda aconselhou: "Vocês estão vacilando... Daqui a pouco, vão acabar presos!".

Não por isso... Não por isso.

Eu?Ropa! - Parte XXXV - Hamburguer

Hamburgo tem muito mais bordéis que lanconhetes.
Mais justo seria, então, se hamburguer fosse uma posição do Kama Sutra, ao invés de um sanduíche.
Sacanagem...
Literalmente.

Eu?Ropa! - Parte XXXIV - Notícia

Pegaram o trem em Copenhague na estação certa, na hora certa.
Desceram do trem em Hamburgo na estação certa, na hora certa.
Chegaram ao hotel sem se perderem nenhuma vez.
Deve ter até saído no jornal...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu?Ropa! - Parte XXXIII - Ai!, se a mamãe descobre...

Com o avançar da viagem, a gente começa a notar alguns excêntricos comportamentos de higiene.

O dia de colocar meia nova, por exemplo, é comemorado em meio a abraços e "parabéns".
Se alguém ousa colocar camisa limpa em dois dias consecutivos, pode acabar sofrendo uma severa repreensão: "Tá esbanjando, né?".

A troca de calça, então, é quase um funeral.
Já houve quem tenha se agarrado a um jeans, jurando fidelidade eterna depois de apenas cinco dias de uso.

Um absurdo, né?
Onde já se viu mudar a calça com menos de uma semana? Tsc, tsc.

Eu?Ropa! - Parte XXXII - China in kbh

Se você algum dia for a Copenhague, aproveite a dica.

A Stroget é a rua de pedestre mais longa do mundo.
É ali que os milionários - digo, as milionária - vão gastar o dinheiro que ganharam com suor (se é que dá pra suar naquele frio). Algo como uma Daslu a céu aberto.

E não é que, no meio desse universo paralelo, ali escondidinho entre uma Louis Vitton e uma Armani, existe um restaurante chinês desses bem vagabundos?

Por algumas moedinhas, dá pra encher o bucho com uma caixa de macarrão com frango xadrez.

O único problema é ter que comer em pé, sob os olhares e narizes torcidos da aristocracia dinamarquesa.

Aliás, aí vai uma segunda dica: pegue a sua caixinha e vá se sentar na vitrine de alguma loja.
Se vierem reclamar, diga que é um mendigo.
Além de conseguir comer sentado, você ainda pode acabar ganhando uma esmola.

Nada mal!
Né-ô-num-é?

Eu?Ropa! - Parte XXXI - E esse trem aí? É bagagem de mão?

- Este aqui vai direto pra Hamburgo. Vocês só precisam saltar depois que ele entra no barco...

Foi assim, com a maior naturalidade do mundo, que o atendente explicou que os trilhos terminavam de um navio.
Depois disso, vem o quê? Enfiar o navio dentro de um avião?

Eu?Ropa! - Parte XXX - Pequena Seleia, né?

Copenhague é impressionante.
A cidade inteira é uma mistura de passados de diferentes tempos.
É impossível andar por lá sem se impressionar com os prédios, as praças, as pessoas.

Tudo deixa um gosto de "quero mais".

Quase tudo, aliás.

Houve também um sabor amargo.
Só deu para ver a estátua da Pequena Sereia, símbolo da cidade, pelos postais.
Ao que parece, ela está em excursão pela China.

Fazendo o que, eu não sei.
Mas que foi uma sacanagem muito grande, ah!, foi!

Eu?Ropa! - Parte XXIX - Cab-inn

Chegaram em Copenhague sem uma Coroa Dinamarquesa (DKK, ou "ducacá", para os íntimos).

Saindo da estação, lançaram-se à rua que, àquela hora, tinha uma temperatura nada amena.
Foi só com muito esforço que conseguiram arrumar um táxi para o Hotel.

O nome já dava uma clara dica do que iriam encontrar.
Mas eles, como todos os jovens, respondiam ao perigo com uma gargalhada.
Ignoraram o prenúncio: "Cab-inn Hotel".

Eis, daqui por diante, os fatos como se sucederam.
E se eu estiver dizendo alguma mentira, quero que me prendam naquele quarto por um mês!

Marley abriu a porta, e ficou uns dois minutos parados.
Feitosa reclamou, e ouviu como resposta:
- Já estou aqui dentro!

O cubículo era tão pequeno que não cabiam ali os três com as três mochilas.
Tiveram que empilhar duas cadeiras e tirar a escada do beliche para poderem fechar a porta do quarto com tudo - inclusive eles - do lado de dentro.

Ultrapassada a (penosa) etapa, descobriram que o banheiro tinha o tamanho ideal para se usar a privada ao mesmo tempo em que se toma banho e escova os dentes na pia.

Cada uma das camas acomodava perfeitamente uma criança anã pigmeia desnutrida.
Ou melhor, duas delas.
Porque metade da terceira era ocupada por uma mesa (???).

Por fim: nenhuma circulação de ar.
Parecia até uma Teresina no coração da Dinamarca.

E o hotel ainda tem a cara de pau de ostentar o slogan "Sleep cheap in luxury".

Luxo é a &$@#%^&!!!*


* "&$@#%^&" - palavrão dinamarquês sem tradução


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eu?Ropa! - Parte XXVIII - Nein Hauptbahnhof

O papel dizia para saltarmos na "Hamburg Hbf", mas saltamos na "Hamburg Harburg".

Aí, já viram, né?
Perdemos o trem direto pra Copenhague. O último, em razão da nossa costumeira falta de sorte.

Neste exato momento (dia 16/05/2010, às 23h16m47s), estamos aqui, no quinto trem, entre nada e lugar nenhum.
A plaquinha informa que estamos indo pra "Kobenhavn H" - com algumas letras cortadas e uns tremas -, e vamos rezando pra que esse troço aí seja Copenhague em dinamarquês.

Eu?Ropa! - Parte XXVII - A vida é muito curta...

...para se aprender Alemão.

Eu?Ropa! - Parte XXVI - Bremen

Uma catedral do Século XI me diz: "seja bem-vindo".
Como som de fundo, uma pequena orquestra toca Beethoven.
Em meio a ruas medievais, deparo-me com a estátua gigante de um cavaleiro de Carlos Magno.
Ele luta para chamar a minha atenção, que ainda está perdida na fachada renascentista da Rathaus.
Lá no fundo, vejo crianças que brincam de segurar as patas da estátua que presta homenagem aos Músicos de Bremen.
Sento-me na praça e, com toda a calma, almoço.
Passeio às margens do rio Weser.
Paro num café.
Vejo a vida passar.

domingo, 23 de maio de 2010

Eu?Ropa! - Parte XXV - "Vai lacraia, vai lacraia"

Eles dançam esquisito.
Não é pouco esquisito. É muuuuuuuito esquisito!

Do lado de um alemão, você pode fazer até o reboleichon da eguinha pocotó montada na bicicletinha, que ninguém vai reparar.

No começo, foi assustador. Depois, virou só motivo de riso.

Apontavam e diziam: "Olha lá outra lacraia..."
Viram muitas.

Eu?Ropa! - Parte XXIV - Vai entender...

Por todos os lados, só o que viam era verde.

Como que concertados, todos os habitantes da cidade vestiam a cor do Verder Bremen.
Em qualquer esquina, qualquer bar, cantavam, bebiam.

Tinha gente que até beijava a bandeira.

Nossos amigos acharam que o clube tivesse sido campeão.

Perguntaram.
O jogo acabara de terminar: Verder Bremen 0 x 4 Bayern de Munique.

Eu?Ropa! - Parte XXIII - Germania culpa, germania maxima culpa

Certamente, há quem tenha dito que eu os abandonei.
Tudo intriga. Não se iludam.

A verdade é que uma das coisas mais difíceis na Alemanha Oriental é encontrar uma internet wireless.
Dizem até que, durante a ocupação soviética, os tíquetes de internet eram mais disputados que papel higiênico.

Enfim, (des)culpas, volto hoje ao mundo virtual.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Eu?Ropa! - Parte XXII - Viva Stalingrado

Estavam bem vestidos, asseados, e com documentos regulares.
Tinham dinheiro mais do que suficiente para pagar a entrada.
Pegaram a fila, esperaram...
Mas, na hora de entrar, sem qualquer explicação, ouviram, num Inglês grotesco, um "party close".

Enquanto tentavam entender o que estava acontecendo, foram salvos por um segurança, que, obviamente, não era nativo:
- Vocês são brasileiros?
- Sim.
- Podem entrar...

E foi só assim, salvos por um compatriota, que conseguiram entrar.

Obrigado soviéticos, ingleses, franceses, americanos, por terem salvado o mundo. Literalmente.

Eu?Ropa! - Parte XXI - Pegando o bonde andando

A primeira coisa que fizeram em Bremen - como de costume, aliás - foi pedir informação: precisavam saber como chegar ao hotel.

Por algum desses milagres que só acontecem uma vez na vida e nenhuma na morte, conseguiram encontrar um alemão educado. Alemã, na verdade.
Foi quase simpática.

Ouvidas as instruções, pareceu ser fácil chegar lá: bastava estar na estação 10, às 19h54.

Quando chegaram, não tinha trem nenhum.

Pensaram que talvez tivessem errado de número.
Conferiram.

Por "conferir", entenda-se: colocar o papelzinho ao lado do quadro, e comparar os desenhos.
No fim das contas, viram que nenhuma letra batia...

Quando parou um trem, até cogitaram entrar.
Mas as letras dele também não batiam com as que tinham em mãos.

Depois de acalorada discussão, caiu a ficha de que tinham errado, mesmo.
Não foi a primeira vez, e nem ia ser a última (confiram nos próximos capítulos).

Voltaram pra perguntar.

Dessa vez, a alemã não pode esconder o riso de escárnio.
Era para terem pegado o bonde, não o trem.

Pronto!
Esclarecido o ponto, correram, e até conseguiram pegar o bonde seguinte.

Mais uma vez, o arcaico método de localização: alguém segurava no alto o papelzinho, e os outros iam procurando no mapa hieróglifos semelhantes.

Demoraram duas estações para conseguir encontrar; estavam duas estações mais longe do destino: o bonde ia para o outro lado da cidade.

Desceram, e pegaram um táxi.

Eu?Ropa! - Parte XX - Dãnkúlar?

Saíram com uma marca vergonhosa.
Não aprenderam a falar nem "obrigado", nem "de nada" em holandês...

"You're welcome" era a frase da viagem.
Nem sempre usada no momento certo...

Eu?Ropa! - Parte XIX - Made in Paraguay

- Aproveitando que vamos à Suíça, estou pensando em comprar um relógio dos bons... Vou ver se encontro aquele tal de SWITCH.

Panos quentes.

Eu?Ropa! - Parte XVIII - Sinal dos tempos

O sucesso de um bar em Amsterdã não se mede pelas filas.
Conte o número de bicicletas estacionadas, e terá a exata noção de quão cheio ele está.

domingo, 16 de maio de 2010

Eu?Ropa! - Parte XVII - Com o pé direito

Passou o dia inteiro falando que o tênis do amigo era feio - e era mesmo, hemos de convir.
Gabava-se por ter comprado o sapato mais bonito do mundo, especialmente para aquela viagem.

Do banheiro, ouviu-se um grito: "Nããããããããããão!".

Afogado em lágrimas, Feitosa parecia não acreditar.

Tinha nas mãos dois sapatos.
Iguais. EXATAMENTE iguais.

Começou a viagem com o pé direito.
Ou melhor, com os pés direitos...

Eu?Ropa! - Parte XVI - Coca-Cola que passarinho não bebe

Inocente que é, demorou a entender.

Ele prefere Pepsi...
Ainda bem.

Ou poderia, sem querer, aceitar a "coke" que é oferecida em qualquer esquina.

Eu?Ropa! - Parte XV - Bicicletinha

Andar na rua em Amsterdã exige muito cuidado.
A qualquer momento, seu passeio pode terminar de maneira trágica.

Eu assumo: passei a ter medo de bicicletas.

Eu?Ropa! - Parte XIV - Perguntas óbvias

Perguntaram se podia beber na rua.
A vendedora, com um risinho de deoboche, respondeu: "claro que sim!".

Ela, certamente, teve vontade de responder, em tom de ironia:
- Cerveja na rua?! Em Amsterdã?! Daqui a pouco vão permitir até maconha...

Eu?Ropa! - Parte XIII - Diliça!

Até refugaram para entrar, mas as (poucas) ofertas não lhes deixavam muitas opções.
Iam ter que provar o prato mais típico da Holanda: o kebab turco (???).

Pediram um pra dividir, e começaram assim meio receosos.
Em breve, contudo, estavam já se lambuzando, com mãos e beiços sujos.

Mandaram vir outro.
Comeram tudo, e ainda ficou um gostinho de quero-mais.

Eu?Ropa! - Parte XII - I amsterdam

Saíam do Rijksmuseum, e procuravam o Museu Van Gogh.

Viraram ali naquela rua, como quem não quer nada.
E eis a grande surpresa: em letras garrafais, o monumento anunciava "I amsterdam".

Tiraram ali, um em cima do T, outro em cima do S, a primeira grande foto da viagem.

Eu?Ropa! - Parte XI - Intimidade

- Vou lá rapidinho!
- De novo?
- É! Quero poder dizer que fui ao banheiro na casa da Anne Frank.

Justo.

Eu?Ropa! - Parte X - Ô!, trem bão...

Foi em Amsterdã que aquele hábito esquisito manifestou-se pela primeira vez.

Eu já tinha visto uma reportagem sobre o assunto, mas achei aquilo tudo tão absurdo, que não dei o crédito devido.
Falava-se em pessoas que eram aficcionadas por trem: um sonhava em ser maquinista; outro andava feito um maluco na rua fazendo "piuí".

Pois nessa viagem, eu conheci um terceiro.

Vocês sabem que a Europa é feito Minas, né? É tudo trem.

E é só ver um que Marley já sai correndo, a pedir: "Tira uma foto aê!".

É um tal de foto do trem chegando, do trem saindo, do trem parado, de dentro do trem, da cadeira do trem, do banheiro do trem.

Às vezes, é preciso arrastá-lo à força para fora.

Se deixasse, só iam conhecer a Europa pela janelinha...

Eu?Ropa! - Parte IX - Budget rooms

Smoking allowed.
Including in the room.

Eis uma placa nada incomum em Amsterdã.

Eu?Ropa! - Parte VIII - Um par de quê?!

Aquilo merecia um brinde.

Enquanto esperavam o trem para Amsterdã, resolveram, às pressas, comprar as primeiras cervejas.

Percebendo que a atendente os serviria em copos de vidro, Feitosa alertou-a, no seu Inglês fluente:
- No! In the couple of plastic!

Enquanto Hector e Marley gargalhavam, a pobre funcionária esforçava-se por imaginar o que seu cliente exigia.
Nunca conseguiu descobrir.
Declarou-se incompetente para o trabalho, e pediu demissão na mesmo noite.

Eu?Ropa! - Parte VII - Red Light

Não tiveram tempo nem de tomar banho.
Jogaram as mochilas no hotel e, catitos e pimpões, partiram para o centro de Amsterdã.

Foi só um passeio curto, mas já deu pra perceber que a cidade só vive porque o Red Light District é o seu coração.
Porque, se fosse o pulmão, já era!

Eu?Ropa! - Parte VI - Holiday

Amsterdã, Schipol Airport.
Finalmente haviam chegado ao primeiro de muitos destinos.

E a primeira notícia já não foi das melhores:
- Vocês querem hotel onde? No centro? hahahaha - gargalhava a gentil atendente.

Pelo visto, arrumar um hotel em cima da hora não seria tão fácil como eles imaginavam.
Mas como poderiam eles saber que chegavam no meio de um feriado europeu?
Exigir que fizessem uma pesquisa mínima antes de sair do Brasil - claro! - seria demais.

"Hopfstraaden stfhtzerals naardanstum ferradstkilf", como se diz na Holanda.
Ou, em bom Português - melhor, Brasileiro -, "tá no inferno, abraça o capeta".

Pegaram um hotel perto do aeroporto, mesmo.
O único quarto que sobrava...

Não estavam em posição de impor condições.

Eu?Ropa! - Parte V - Flight mode, ô pá!

Marley estava duplamente ansioso: para usar o seu iPhone e o seu Inglês.
Precipitou-se.

"Can I use my phone in flight mode?"

"Claro!" - respondeu a aeromoça, em bom Português.
Era um voo da TAP.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Eu?Ropa! - Parte IV – Pare o mundo que eu quero descer

Logo que viu, percebeu que era melhor não ter visto.

Na cadeira do piloto, estava sentado – paseme! – aquele ser totalmente inapto a operar qualquer meio de transporte mais complexo que um carrinho de rolimã: a mulher.

Só posso dizer que, mais tarde, os comentários eram de que a pilota, afogada em lágrimas, teve que chamar o namorado pra manobrar o avião.

Hector nem percebeu.
Por via das dúvidas, tinha se dopado.

Eu?Ropa! - Parte III – E vice-versa?

Hector pensava que, depois daquela placa “Proibido deitar freiras no mictório”, nada mais o surpreenderia nos banheiros portugueses.

Ora, pois! O gajo estava enganado.

Estava ele lá, concentrado, esforçando-se ao máximo para terminar sua escultura urinária no gelo quando, de repente, não mais que de repente, três mulheres entram, sem qualquer cerimônia, no banheiro masculino.

Conferem o sabonete, veem se tem papel, checam o mictório, cumprimentam os usuários.
Durante todo o tempo, conversam animadamente, fazendo questão de demonstrar a naturalidade que sua profissão exige.

Deu até pra começar a entender como a mulher se sente no ginecologista.

Eu?Ropa! - Parte II – Purrrtugueiz

Bem que Noel já tinha avisado: já passamos do Português; falamos o Brasileiro.

Podem exportar novelas, fazer Acordos Ortográficos excêntricos, colocar o Saramago pra cantar com o Martinho da Vila…
Brasileiro e Português já não são mais a mesma coisa faz tempo.

Aliás, às vezes parece que é mais fácil entender Alemão.

Eu?Ropa! - Parte I - Febre tifóide, difteria…

Tinha tudo planejado. Ia ser um voo tranquilo…
Aproveitaria aquela madrugada no avião para tirar um cochilo, e, ao acordar, já estaria na Europa, novinho em folha.

Colocou o seu fone de ouvido, fechou o olho, e… pá! Chute na cadeira.

Logo após, a discussão:
- É pressão alta!
- Não. É pressão baixa…
- Ih! Sei não… Isso está com cara de enfarte.
- Eu só sei que minha vizinha ficou desse jeito, e morreu em menos de cinco minutos.

Depois de se assegurar que não era um pesadelo, resolveu conferir.
O cidadão da poltrona de trás estava mais branco que um sueco albino de férias numa estação espacial.

Inica-se, então, em meio a bundadas e cotoveladas em Hector, um simpósio médico multinacional.

E, como todo doutor que não faz ideia de qual seja a doença do paciente, a opinião conclusiva foi a de que só podia se tratar de uma virose.

Menos mal pra Hector, que até agora não apresentou qualquer sintoma de… cof! cof… nenhuma doen… rãããããããããããf… ça contagiosaaaaaaaaaaargh!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Eu?Ropa! – Parte Nihil – Tiiiiic... Taaaaaaaaaac... Tiiiiic... Taaaaaaaaaac...

2 meias. Ok.

1 calça. Ok.

5 camisas... 3, 4... 5. Ok.

1 cueca. Ok.

1 bisnaga de hipoglós. Ok.

Zip, zip, ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiip.

Mala pronta.
Ou melhor, mochila. Porque só os malas usam mala (hihihihi).

Tudo certo pra partir.
Ou melhor, quase tudo.

Se o vulcão islandês parar de arrotar fumaça, daqui a exatas 24 horas estarei sobrevoando o Atlântico, a caminho do velho continente.
Ah! Bons eram os tempos em que as únicas preocupações de viagem eram a falta de dinheiro, a falta de planejamento e a falta de bom senso. Né, não?

Fazer o quê?
Agora, só resta esperar, e rezar aos deuses dos viajantes – esses seres incansáveis, parentes próximos das entidades que protegem os bêbados e os loucos – para que, mais uma vez, deem aquele empurrãozinho:

“Pô, rapeize! Sei que depois daquele episódio na fronteira da Bolívia, prometi não pedir mais nada... Mas vocês sabem como é, né? Toda vez que abro a gaveta, meu passaporte fica me olhando com aquela cara de pidão, implorando pra eu espanar a poeira... Meu coração não aguenta! Sou nômade! Tenho que por o pé na estrada”.

Faço força pra fazer os ponteiros andarem mais depressa.
Aperto os olhos, vibro as mãos, grito “chazan”...
Não adianta nada.

Há uns cinco minutos, o relógio resolveu andar pra trás, só de pirraça.
Dei-lhe uns tabefes.
Só parei quando ele gritou que estava treinando pra trocar de fuso horário.

Ahn!, bem! Melhor assim.

O jeito, mesmo, é esperar.


E.T.: Ao menos, tive uma boa notícia, hoje.
Há alguém que lê este blooooooog, [looooog, loooog, looog, loog].

Não só lê, como faz comentários.
Não qualquer comentário. Comentários VIP!

Com certeza, é a arrancada para o sucesso!
Esta página, agora, tem tudo pra deslanchar.

Tá. Foi mal. Exagerei.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XXIII - Que nem Ronaldinho

Acordaram às 5h da manhã.

Ainda tinham bem frescas na memória as recomendações daquele guia metido a vulcanólgo e à besta: levar comidas leves e bastante líquido.
Em hipótese alguma, vestir calça jeans.

Encheram a bolsa com suas provisões: dois pacotes de biscoito palmier pequenos (comida “leve”), e um litro de vinho.
Na última hora, alguém ainda lembrou de levar uma garrafinha de água metade bebida.

Foram todos de calça jeans, mesmo.
Afinal, era isso ou bermuda...
Pra não correr riscos, meteram uma por dentro da outra.

Em média, só uma vez por semana era possível escalar o Vulcão Villarica.
Tudo dependia de uma combinação de tempo, atividade sísmica, alinhamento dos astros, humor do guia, e blá, blá, blá.

Não estavam nem aí.
Queriam mesmo era partir logo...

Tiveram que assinar um papel dizendo que eram alpinistas experientes (???), e os únicos responsáveis em caso de morte.
E enquanto todos os outros já pareciam familiarizados com as ferramentas, os quatro ainda as olhavam meio preocupados.

Na van que os levava à base de partida, Shmaicols resolveu falar de amenidades, só pra descontrair:
- Galera! Demos sorte: tem uma gata indo com a gente! Ó... Ó...

Os três olharam assim meio cabreiros, sem saber se aquele papo era sério.

Mas ele continuou:
- Ih! É um casal de lésbicas... Sssssssssssssssssssssssssssss [chupadinha de ar]... A-do-ro!

Aí, não teve jeito.
Todo mundo caiu na gargalhada!

Shmaicols até começou rindo junto com os outros, mas gelou quando sua musa se virou.
Não dava pra enganar: era um homem.

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XXII - Águas termais?! Rãããããn! Sei...

Combinaram de escalar o vulcão no dia seguinte.
O que fazer, então, para matar a ansiedade até lá?

Por via das dúvidas, deram uma olhadinha no “Semaforo de alerta volcanica”: verde.
Felizmente, naquele dia, não estava programado nenhum derramamento catastrófico de lava.

Decidiram, então, fazer o programa recomendado por dez em cada dez revistas para o público gay: foram tomar banho em uma fonte de águas termais.

E foi ali, os quatro desnudos da cintura pra cima e meio submersos n’água, já com o sul se pondo, toalhas jogadas no chão, que tiraram a foto de que iriam se envergonhar para o resto da vida.

Queimaram-na. Literalmente.

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XXI - A porta dos desesperados

Chegaram em Pucón como chegavam em todos os lugares: sem pouso certo, sem dinheiro, sem vergonha na cara.

Só que, desta vez, não estavam numa cidade, mas em um vilarejo.

Pararam no único hotel para perguntar o preço.
Acho que era por causa da temperatura (uns 5oC), mas fato é que ninguém queria descer do carro.

Lacerda tomou coragem e entrou:
- Quanto é a diária? – perguntou, meio como quem não quer nada.
- Duzentos dólares.
- Ah! Que ótimo! Espera um instantinho, que eu vou só pegar minhas malas...

Voltou sentenciando:
- Galera, vamos ter que dormir no carro de novo.

Ah, não! Aí já era demais!
Se fosse só o cheiro de desodorante vencido, até ia.
Mas e o frio?

Decidiram ser razoáveis e fazer a coisa mais sábia...
Revezando-se na tarefa, saíram batendo de porta em porta, esmolando um teto.
Afinal, não dava pra descartar a possibilidade de encontrarem alguma velhinha caridosa.

E não é que deu certo?

Na trocentésima investida, conseguiram um quarto enorme, com cobertores quentinhos e água aquecida.

De quebra, ainda podiam usar a cozinha.

Pra comemorar, abriram um vinho.
Tomaram com macarrão.

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XX - Havia uma pedra no meio do caminho...

Não me lembro quem falou, mas caiu como uma bomba:
- Pessoal, fiquei sabendo que tem um vulcão aqui no sul do Chile. Disseram que dá pra escalar. Bora?

De uma hora pra outra, aquele passou a ser o objetivo máter da viagem.

Passeavam por Santiago de olho no relógio, torcendo para o tempo passar logo.
Todo mundo com aquela ideia na cabeça.

Até que uma bendita alma pensou em voz alta:
- Por que a gente não vai agora pra Pucón?

Quando falou o “cón”, já estava todo mundo dentro do carro, gritando “vul-cão, vul-cão, vul-cão”.
E foi assim, à luz do luar, que partiram.

Hector acordou no meio da noite, mas estranhou.
Breu total.
Esfregou os olhos com as mãos, sacudiu a cabeça, se espreguiçou.

Ao seu lado, Jajão, que babava no casaco.
No banco do carona, Lacerda jazia com a cabeça na janela.
O motorista roncava.

Epa! O motorista roncava?!

- Ô!, Shmaicols, o que houve? A gente morreu?
- Ahn? Ahn? [assustado] Ah! Foi mal... Tentei acordar vocês, mas não consegui. Parei aqui no acostamento pra dar uma dormidinha... Tô cansadão!

Lá na frente, via-se um pontinho vermelho piscando.
Era o vulcão Villarica derramando sua lava.

- Quer que eu dirija um pouco?
- Pode ser, cara... Valeu!

Trocam de lugares, no meio de alguma estrada em algum lugar do Chile.

- Ah! Cuidado, porque o retrovisor da direita caiu...
- Quê?!
- Pois é... Eu, sem querer, atropelei um pato...
- Como é que é?!
- Atropelei... Passei por cima!
- Mas como assim “passou por cima”?
- Pô! Pensei que fosse uma pedra.

Hector achou melhor não argumentar.
Ainda havia uma pequena esperança de que aquilo fosse só um pesadelo.
Ou uma brincadeira; sei lá.

Mas não era.

Quando acendeu o farol, viu várias sombras no asfalto.
Eram os patos, que, deitados, esperavam algum motorista desatento, para derrubar mais um espelho.

Olhou no retrovisor esquerdo – o único que sobrava –, e só viu a escuridão.
Partiu em direção ao ponto vermelho.

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XIX - Quero buzinar meu calhambeque... Tchuptchuraruntchurãptchururu

Bem que tinham avisado: o Chile é muito mais caro que a Argentina.
Só que ninguém pensou que a diferença fosse tanta.

Chegaram em Santiago já meio tarde, exaustos.
Sua busca por hotéis de baixa categoria foi infrutífera.
Pelo visto, as prostitutas e os motoristas de caminhão chilenos têm mais poder aquisitivo que estudantes brasileiros. O preço daqueles antros era mais do que eles poderiam pagar.

Pensaram em dormir na praça, mas acharam que ia ser complicado explicar pro guarda de lá que não eram nem vagabundos nem delinquentes, só caras carentes.

Aí, alguém teve a ideia genial: dormir no carro!
Tiveram ao menos a decência de parar em um estacionamento fechado.

Janelas abertas, caíram nos braços de Morfeu.

Dormir até que não foi difícil.

Quem dirá Shmaicols...
No meio da noite, quando tudo era paz e silêncio, enfiou a cara na buzina, acordando metade da capital chilena.

Pra variar, todo mundo achou engraçado.
(Ah!, aquela fase boa da vida...)

[suspiro nostálgico]

O único problema – ao menos para os que executavam a tarefa regularmente – foi escovar os dentes no dia seguinte.

O vigia, acordando assustadíssimo, achou tudo muito estranho.
Indicou onde era a pia, mas, precavido, deu o aviso: era proibido tomar banho.

Tudo bem, tinha um chafariz logo ali em frente!

Brincadeira, brincadeira...
Não chegou a tanto.

Mas juro que foi por pouco. Muuuuuuito pouco.

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XVIII - Valparaíso, Viña del Mar...

Uhu!
Ponto final.

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XVII - Um, dois, três, e... Rãããããããããf!

Chegaram ao sétimo dia de viagem.
Por uma dessas maravilhosas peripécias do destino, estavam num ponto marcante da viagem: a fronteira entre a Argentina e o Chile, aos pés do Aconcágua.

Pararam o carro, e resolveram apostar corrida até o mirante.

Puxavam o ar, e o ar não vinha.
Quase morreram.

Tinham esquecido que estavam a 3100 metros de altitude.

Quatro amigos, nenhum destino - Uma aventura no Cone Sul - Parte XVI - Legal, legal... Mas onde é a degustação?

Acordaram de ressaca.
Por sorte, naquele dia, teriam a oportunidade de curá-la. E em grande estilo.

Haviam combinado de fazer a famosa “Rota dos Vinhos” mendocina.

Programa dos mais agradáveis, consiste basicamente em rodar pelas inúmeras vinículas da região, conhecendo as fincas, o processo de fabricação das bebidas, e – a parte mais importante – provando o produto final.

Na primeira parada, prestaram atenção em tudo: colheita, fermentação, blá, blá, blá.
Na segunda, já procuraram desesperados a sala de degustação.
Da terceira, ninguém lembra! Afinal, já estavam todos meio bêbados.

Na animação, esquecendo daquele pequeno detalhe (a falta de espaço), decidiram levar duas caixas de vinho para acompanhar os macarrões.

Voltando pra casa, tiveram que parar o carro.
Em pleno Parque General San Martín, Jajão teve que chamar o Raul.
E não foi o Seixas.

Os ídolos e o futebol

A recente pendenga envolvendo a NAÇÃO RUBRO-NEGRA (em maiúsculas, pra mostrar a importância) e o ronaldo bolota (com minúsculas, pelo mesmíssimo motivo) me fez refletir sobre essa estória de ídolos no mundo do futebol.

Quando se trata de esporte, é claro que a razão acaba sendo deixada de lado.
Só que – peralá! – há limites.

Em primeiro lugar, a pergunta: o que é um ídolo?
Filologia à parte [bocejo], ídolo, pra mim, é aquele em quem se pode mirar; um exemplo.

Então, ronaldo, você não é, nunca foi, e nunca será meu ídolo.

Não há qualquer mérito em nascer com um dom. Nem é motivo de orgulho.
Digno de aplausos – isso, sim – é o que se faz com ele.

E que ninguém me venha com o papo de “maior artilheiro de todas as copas”, e blablablá.
Isso, meu amigo, ele não fez por mim; fez por ele.
Tenho certeza que o ronaldo bolota não estava pensando em minhas aflições, em casa, quando marcou os seus gols.

Sua cabeça – claro – estava na sua conta bancária (na época, certamente mais rechonchuda que sua silhueta).
Não que haja algo de errado nisso. Estava no seu direito de lutar pelo que é melhor para ele.
Só que isso não o torna um exemplo, um ídolo.

E chego aqui ao ponto crucial.
No futebol, pra ser ídolo, o cara só precisa de três coisas: um dom, usar esse dom (ainda que seja pelo mãnimãnimãni; ninguém se importa) e não fazer grandes besteiras.

ronaldo bolota pecou no terceiro.

Não me refiro apenas ao (humilhante) episódio dos travestis, mas também à traição ao Flamengo.

Traição, sim. E ponto final.

O cara passa a vida inteira jogando fora do Brasil, totalmente indiferente à paixão que move o brasileiro no dia a dia.

Volta pra cá, e jura amor ao Flamengo.
É recebido de braços abertos pela torcida, mesmo estando gordo, machucado e decadente.

Aí, na ÚNICA vez na carreira em que precisava deixar de lado a grana e optar pelo sentimento, faz o quê? Todo mundo sabe.

E aposto que, se ainda tivesse condições de correr, iria embora correndo na primeira oferta que fizessem a mais, fosse do Flamengo, do Palmeiras, ou do Ibis.

Agora, ronaldo bolota, eu lhe pergunto: você acha que é meu ídolo?!
Não! Pode ter certeza que não!

Pra mim, você é só um mercenário, e será tratado como tal.
Afinal, é pago pra isso. E muito bem pago.

Eu até torceria pelo seu fracasso, se fosse preciso.
Mas nem precisa. Você já está no caminho certo...

E tira o olho da minha pizza!