Não me lembro quem falou, mas caiu como uma bomba:
- Pessoal, fiquei sabendo que tem um vulcão aqui no sul do Chile. Disseram que dá pra escalar. Bora?
De uma hora pra outra, aquele passou a ser o objetivo máter da viagem.
Passeavam por Santiago de olho no relógio, torcendo para o tempo passar logo.
Todo mundo com aquela ideia na cabeça.
Até que uma bendita alma pensou em voz alta:
- Por que a gente não vai agora pra Pucón?
Quando falou o “cón”, já estava todo mundo dentro do carro, gritando “vul-cão, vul-cão, vul-cão”.
E foi assim, à luz do luar, que partiram.
Hector acordou no meio da noite, mas estranhou.
Breu total.
Esfregou os olhos com as mãos, sacudiu a cabeça, se espreguiçou.
Ao seu lado, Jajão, que babava no casaco.
No banco do carona, Lacerda jazia com a cabeça na janela.
O motorista roncava.
Epa! O motorista roncava?!
- Ô!, Shmaicols, o que houve? A gente morreu?
- Ahn? Ahn? [assustado] Ah! Foi mal... Tentei acordar vocês, mas não consegui. Parei aqui no acostamento pra dar uma dormidinha... Tô cansadão!
Lá na frente, via-se um pontinho vermelho piscando.
Era o vulcão Villarica derramando sua lava.
- Quer que eu dirija um pouco?
- Pode ser, cara... Valeu!
Trocam de lugares, no meio de alguma estrada em algum lugar do Chile.
- Ah! Cuidado, porque o retrovisor da direita caiu...
- Quê?!
- Pois é... Eu, sem querer, atropelei um pato...
- Como é que é?!
- Atropelei... Passei por cima!
- Mas como assim “passou por cima”?
- Pô! Pensei que fosse uma pedra.
Hector achou melhor não argumentar.
Ainda havia uma pequena esperança de que aquilo fosse só um pesadelo.
Ou uma brincadeira; sei lá.
Mas não era.
Quando acendeu o farol, viu várias sombras no asfalto.
Eram os patos, que, deitados, esperavam algum motorista desatento, para derrubar mais um espelho.
Olhou no retrovisor esquerdo – o único que sobrava –, e só viu a escuridão.
Partiu em direção ao ponto vermelho.
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