Antes, porém, sobrevoei um passado mais recente, e também mais feliz.
Duas pontas daquela minha vida, separadas por uma baía de distância.
Como opção ao trânsito caótico da Ponte Rio-Niterói, as barcas, aqueles monstros, projetos de sucata que insistem até hoje em zanzar, devagarzinho, de um lado a outro.
E de um lado a outro meu corpo zanzava também, refém de uma vontade vacilante, ou ao menos não tão forte a ponto de se impor.
Quantas vezes saí correndo do trabalho e, catando o bilhete na carteira e esbarrando com a mochila em passageiros incautos, pulei a bordo no último instante, no tempo certo e medido de afrouxar a gravata ao som do silvo de partida.
Dali em diante, uma paz de vinte minutos com a cidade maravilhosa, luzes acesas, como pano de fundo.
Nem sei como aqueles bancos de madeira – tão frágeis, à primeira vista – sustentaram o tanto que refleti sobre a minha vida, e o peso das decisões, algumas das mais importantes. Sou capaz de lembrar de mais de uma dezena das que tomei ali, olhando para o rastro branco deixado à ré, ao som das ondas batendo no casco.
Não guardo todas na memória (e nem seria capaz), mas isso de forma alguma me nega o direito de ainda sentir o gosto doce a contrastar com o salgado do mar.
Penso no quanto eu seria diferente, não fossem tantos os bons conselhos.
Cruel destino: foi ali que decidi meu caminho. Este mesmo, que hoje passa por aqui, longe, muito longe dela.
Aldir, acho que só você me entenderá...
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E como... perdi-me nos meus devaneios aqui.
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