Algo perturbava Hector.
Veio assim, de mansinho, e logo, logo, ele não conseguia pensar em mais nada.
Era como se a sua bexiga, de uma hora pra outra, tivesse tomado a decisão: "hoje é o meu dia; hoje não tem Carnaval pra você".
Olhando para o lado, só o que se via era uma multidão que, insensível à luta interna travada por nosso galã, erguia as suas grandes patas alegóricas de camaleão.
Bem, fosse um desenho animado, teria, nessa hora, brilhado uma lâmpada ao lado da cabeça de Hector: sua salvação estava ali, ao seu lado, o tempo todo.
Como que por iluminação, viu que, pra resolver o seu problema, bastava colocar a mão na massa... digo, na pata!
O plano, simples, logo começou a ser executado.
Com toda a discrição que o seu abadá permitia, e um singelo assobio para demonstrar que não fazia nada a que não estivesse acostumado, sentou-se ao asfalto em ebulição.
A pata do camaleão posicionou-se em seu lugar, a proteger a casta intimidade de Hector.
Estava tudo pronto...
E teria corrido bem se Lete - ela, sempre ela - não tivesse soltado o berro:
- Ai! Que nojo!
Aí, meu amigo, babou.
Em uma fração de segundo, abriu-se um clarão tão grande em volta de nosso herói que, dizem as más línguas, fez com que aquela patinha pudesse ser vista até do espaço.
Besouro bem que tentou ajudar.
Despejou uma latinha inteira ao lado do ouvido de Hector, fez barulhinho de chuva e até cantou a musiquinha do xixi.
Mas não teve jeito. Veio a confissão: "travei"!
Ainda meio envergonhado, Hector levantou-se do chão, deu umas sacudidelas na bermuda empoeirada e, tentando misturar-se aos outros foliões, acenou com a patinha que, momentos antes, poderia tê-lo salvado.
O dia era mesmo da bexiga...
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