quinta-feira, 25 de março de 2010

Carnaval em Salvador - A Saga - Parte XIII - Réquiem de um Carnaval

O último dia.
Aquele gostinho de “já acabou” mesclava-se com o de “quero mais”.
E a mistura tinha um sabor amargo.

Histórias...
Risos, lágrimas, chegadas, partidas, desencontros, encontros, amizades, amores.

O acordar na terça-feira trouxe muitas lembranças.
Só de pensar que, há seis dias, aquele Carnaval se apresentava como quase eterno...

Mas cada dia foi um dia a menos.
E naquela manhã, naquela terça, era só um dia que sobrava.

Levantaram-se perguntando “por quê?”.
Se a vida pode ser tão boa, por que tanta preocupação, tanto compromisso, tanta responsabilidade?

É nessas horas que se entende o motivo de tanta gente largar tudo que faz, e ir vender bijuteria numa praia paradisíaca ou abrir uma pousada num recanto pacato da serra.

Pois foi nesse clima, quase que se sentindo obrigados a aproveitar cada segundo que lhes restava, que eles partiram para aqueles últimos 4 km.

Então, como de costume, colheram as bênçãos no Farol.
Como de costume, sentiram o êxtase com a multidão desordenada de cores na Barra.
Como de costume, sentiram o corpo tremer com os primeiros acordes de um trio que passava por ali.
Como de costume, abraçaram-se quando aquele caminhão que iam seguir começou a se mover.
Como de costume, cantaram, curtiram, aproveitaram esse – delicioso e curto – espaço de tempo em que a carne ainda não é algo mortal.
Como de costume, foram protagonistas de histórias impublicáveis até pelo mais impublicável dos autores.

Mas, naquela reta final, lhes faltou coragem.
Olhando para o fim, recusaram-se a acreditar.
Doeu pensar que teria que haver uma última música...

Um calafrio percorreu cada um daqueles três corpos, ainda exaustos de tanta folia.
Será que, depois de tudo aquilo que viveram, restaria só o silêncio?

Não puderam – nem quiseram – descobrir.
Fugiram.

Trôpegos, correram.
Enquanto se afastavam, ouviam a música diminuir aos poucos.

E ela diminuiu, diminuiu, diminuiu...
Mas não parou.

Até hoje, quando eles, em qualquer lugar, prestam um pouquinho de atenção, ainda escutam, bem baixinho, um “Aaaaaaaaaaah! Imagina só... Que loucura essa mistura... Alegria, alegria é o estado que chamamos Bahia”...

Aí, lembram que passaram, juntos, aqueles momentos de que irão se lembrar para sempre.

E, como que para agradecer por tudo, sorriem.

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