Quando Hector entrou, Shmaicols, Jajão, e Lacerda já estavam no carro.
“E aí? Vamos pra onde?”
A pergunta pode até parecer sem sentido para o resto do mundo, mas nem tanto para eles.
Foram seis meses programando, marcando, fazendo contas...
Tudo com tanta competência que, horas antes da viagem, ninguém sabia ao certo quem iria.
Mais alguns dias, e eles não iam ter certeza nem sequer dos seus nomes.
Surpreendente seria, então, que eles soubessem para onde iriam.
Não sabiam.
Ao menos, faziam vaga ideia: “Pro Uruguai ou pra Argentina?”.
Decidiu-se pela segunda opção. Mas voltando pela primeira.
Até hoje ninguém sabe se foi o destino quem escolheu, ou se foi só a ordem alfabética, mesmo...
O Ford Fiesta 1.0 estava equipado com tudo o que eles precisavam.
A mãe de Jajão tinha preparado uma sacolinha com sanduíches de presunto, e a de Schmaicols uma jarra de limonada. Quitutes que duraram, respectivamente, 37 segundos e 2 minutos.
Não fosse pelas pervertidas intenções do quarteto, e pelas mochilas e casacos tapando o vidro traseiro, eles bem que poderiam se fazer passar por colegiais indo passar as férias em Cabo Frio.
Na bagagem, apenas uns pares de cuecas velhas, um Hipoglós, um guia com dicas de hospedagem para mendigos, um dicionário Portuguêis-Ispanhol comprado na loja de R$ 1,99.
E, mais importante que tudo, um número friamente calculado de macarrões instantâneos: 2 para cada pessoa por dia de viagem.
Não. Não eram reserva, em caso de acidente...
A ideia (cumprida à risca, salvo única – e trágica – exceção) era a de comer SÓ macarrão durante a viagem.
E a razão disso não foi a milagrosa dieta dos carboidratos industrializados do Dr. Iscrãbous, e sim a seriíssima escassez daquele que sempre moveu a humanidade: dinheiro.
Mas quem precisava de “la plata”, afinal?
Definitivamente, não esses quatro universitários em busca de qualquer coisa que ainda não tivessem procurado.
No longo caminho para Foz do Iguaçu, bolou-se o esquema, aparentemente simples: enquanto uma dupla revezava-se ao volante, a outra dava o seu jeito de descansar no banco de trás, entre meias sujas, malas, casacos, pacotes de macarrão e garrafas d’água vazias.
Uma noite na estrada, e uma noite de suposto descanso em algum pocilga barata (“suposto” porque, geralmente, o descanso era trocado por alguma esbórnia).
A única parte realmente difícil da estória foi decidir quem teria que formar equipe com Jajão e toda a sua retórica humorística ininteligível.
Hector, claro, pra variar, levou a pior.
Acho que, em um único momento da viagem, ele conseguiu entender alguma parte das sempre atuais piadas de seu Robin. Algo do tipo:
- Aí, aí, aí... Essa é muito boa: Sabe o que a chave disse pra fechadura?
Só que, por alguma razão pra lá de desconhecida, Jajão sempre emendava suas frases em risos tão descontrolados que precisavam ser contidos por Hector:
- Cara, faz o seguinte, dá uma olhadinha no mapa, e calcula a distância entre er... Manaus e... er... Ushuaia. Em polegadas!
Com isso, ganhava alguns minutos de um merecido silêncio.
E foi assim – digo, apesar disso – que chegaram à capital (inter)nacional dos sacoleiros.
Era só o começo da aventura... E estou falando sério!
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