sábado, 21 de agosto de 2010

Trópicos de Câncer

Há livros que simplesmente não deveriam virar filmes.

Refiro-me a bons livros, é claro. “Caçador de livros”? Não. “A menina que roubava pipas”? “Crepúsculo”? “Harry Potter”? Não, não, não! Lamento.

Cheguei a esta conclusão assistindo a “Trópico de Câncer”.

Tenho uma teoria. (Aliás, acho que tenho uma teoria sobre tudo.)
Mas, sem delongas, vamos a esta...

Minha visão sobre os livros é meio luterana: eles são a fonte, e deles devemos beber diretamente, sem intermediários.
Ou seja, ninguém precisa ficar interpretando a interpretação de outro.

É aquilo. Está lá e pronto.

Se considerarmos que a sociedade tem um pensamento mais ou menos uniforme em determinada época, dá pra se chegar à conclusão de que este é um problema que não vai se manifestar imediatamente, mas com o tempo.

Tomando como exemplo o próprio “Trópico”.
O livro foi publicado pela primeira vez em 1934 (pesquisei no Google; a responsabilidade é toda dele).
De lá pra cá, ele foi lido por inúmeras gerações, cada qual o interpretando à sua maneira.
Só que, por mais que o autor seja envolvente a ponto de passar com exatidão ao texto o ambiente, os sentimentos, e até os movimentos, é absolutamente impossível que duas pessoas vivam aquele livro da mesma maneira.

O que você imaginaria então da imagem que a sua avó deve ter feito de Henry Miller?

E aí está – imagino eu, na minha confessada ignorância cinematográfica – o maior problema do filme.
Lançado em 1970, ele mostra que a visão que naquele tempo se tinha da Paris e das personagens de Miller é completamente diferente da que temos hoje.

E não tem a menor importância a que está certa e a que está errada.

O livro – como todos os bons – será eterno.
O filme já está morto.

As únicas coisas que se salvam nele, aliás, são exatamente os trechos do livro que são lidos de vez em quando.
Mas aí não vale.

2 comentários:

  1. Eu sou contra livros virarem filmes! Principalmente quando nós lemos o livro. O filme desfaz tudo aquilo que nós pensamos, todas as imagens que criamos quando lemos o livro. É até meio frustrante... "O amor nos tempos do cólera" é um dos exemplos que não me deixa mentir.

    Fica aqui o meu protesto!!!

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  2. Tam vários outros. "O Grande Gatsby", por exemplo, é o ódoborogodó.

    Só conheço uma exceção a essa regra, pra ser bem sincero: "O Poderoso Chefão".
    O que é aquele primeiro filme? Aquela cena em que eles conversam no restaurante, o trem passa, confusão total no pensamento.
    Irado demais!

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