sábado, 14 de agosto de 2010

A volta

Parou em frente à porta.
Um dois três quatro cinco minutos...
Tempo que absolutamente não importa. Ou não importava.

Afinal, tivera uma epifania.
E o que é o tempo para quem teve uma revelação?

Lembrou-se de como a conhecera, e de como ela ria quando a conhecera. E de que quando ria ela ficava com aquela marquinha linda no canto dos olhos.
Pensando bem, aquela marquinha não existia desde o início. Aquela marquinha veio com a vida boa e difícil que já compartilhavam há anos – ela mais do que ele, é claro.

Quando estava sozinho, sentiu de novo aquele aperto no coração, aquele gelo na barriga, aquela dormência nas pernas.
O mesmo que havia sentido na hora que, contra a opinião dos amigos (que insistiam em dizer que “AQUELA mulher” nunca olharia para ele), tomou coragem e se levantou da mesa e foi perguntar se ela era um anjo.

E que pergunta estúpida foi aquela, meu deus?

Ela com certeza só riu porque ele gaguejou.
E ele ficou sem graça.
E ela soube que naquele momento estava perdida, para sempre.

Soube – porque as mulheres sempre sabem tudo – que amaria aquele homem meio engraçado, meio sem jeito. Soube que ele a amaria também, mas que ele nunca reconheceria o valor que ela merecia. E merece. Porque os homens sempre erram. Sempre.

Mas agora ele estava ali, parado, em frente à porta.
E ela também estava ali, parada, em frente à porta. Só que do lado de dentro.
Sentia aquela respiração forte a uns poucos metros, e parecia que ele, ao inspirar, roubava-lhe todo o ar. E todo o chão.

O movimento que ele fez foi tão sutil, tão reflexivo, tão cauteloso, que não se pode dizer se foi o dedo que tocou a campainha, ou se foi a campainha que tocou o dedo.

Ela demorou para se decidir.

Na verdade, em nenhum momento considerou que pudesse ser diferente. Apenas demorou para assimilar o que já estava decidido há muito, desde aquele dia em que aquele homem engraçado e sem jeito a chamara de “anjo”.

Levou um dois três quatro cinco minutos para abrir a porta.
Tempo que não importa. Não importava.

Ele a olhou e a viu pela primeira-vez-de-novo.
Só que desta vez, não estava rindo. Estava com os olhos tocando o chão e a tristeza tocando o teto.

Mas ela aceitou o seu destino, e lhe abriu os braços.

Abraçaram-se.

Um riu, outro chorou.

Ele sabia que desta vez seria diferente.
Ela sabia que não.

3 comentários:

  1. Esse tipo de texto dá uma curiosidade... ¬¬

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  2. Quase me matou do coração esse post!!

    Com direito a ligação, em plena ressaca de domingo de manhã, com a seguinte indagação, quase que num grito: "pelo amor de Deus, hermanooo!! Me contaaaaaa o que houve!!!"

    Também, depois de nossa peregrinação "de bar em bar" no sábado, tudo podia acontecer...

    Mas, no final, tudo esclarecido...ufaa!

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  3. Calma, rapeize!
    Tudo na mesma, por enquanto...
    Só um enredo fictício (porém verossímil).

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